Título: Para Mantega, real não pode se valorizar muito
Autor: Gonçalves, Glauber ; Saraiva, Alessandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/08/2010, Economia, p. B4

Ministro da Fazenda diz que valorização da moeda reflete economia sólida, mas o governo[br]procura coibir abusos

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que há uma inevitável valorização do real frente a outras moedas. "O real se valorizou ao longo do tempo, pois reflete uma economia sólida, mas não podemos permitir exageros", disse Mantega, após acionar o botão de uma nova linha de produção de última geração para impressão de cédulas, na Casa da Moeda, no Rio. "Temos que admitir uma certa valorização, mas procuramos coibir abusos."

Durante inauguração de novo maquinário, o ministro afirmou que a valorização do real reflete a pujança da economia brasileira e lembrou que a moeda já é a segunda mais negociada internacionalmente no mercado futuro, perdendo apenas para o dólar. Ele acrescentou que há uma tendência de desvalorização de outras moedas no mundo.

No Brasil, segundo Mantega, o governo está satisfeito com o resultado nos últimos quatro ou cinco meses das medidas para evitar a volatilidade da moeda, como a redução do IPI ou a criação do IOF sobre compras do Banco Central no mercado de dólares. "Estamos conseguindo atingir o objetivo de dar mais estabilidade ao real, mas continua como uma moeda flutuante", declarou.

Inflação. O ministro da Fazenda também afirmou que a inflação deve terminar o ano sob controle, mesmo que fique fora do centro da meta, e se disse muito satisfeito com o resultado o IPCA divulgado pela manhã pelo IBGE, de 0,01% em julho (ler acima).

"A economia brasileira não tem inflação de demanda. A realidade mostrou que nós tínhamos razão", disse, referindo-se à previsão do governo de que a inflação cairia após um choque de oferta de alimentos no começo do ano.

"Devemos terminar o ano com inflação sob controle e com o maior crescimento talvez da história recente do País", disse. "Não precisa ser exatamente o centro da meta, tem de estar próximo do centro", afirmou o ministro, projetando inflação entre 5% e 5,2% ao final de 2010.

O ministro previu alta do PIB de 7% em 2010 e disse preferir ser mais modesto em sua estimativa do que o Banco Central, que projeta 7,2%.

BNDES. Mantega voltou ontem a defender o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para ajudar o País a vencer a crise financeira internacional de 2008 e afirmou que o manifesto publicado nos principais jornais do País anteontem por entidades empresariais a favor do banco é prova da importância de sua política de financiamentos (ler mais sobre o BNDES na página B8).

Nas últimas semanas, o banco tem sido alvo de fortes críticas por causa de repasses de R$ 180 bilhões recebidos do Tesouro, e por conceder financiamentos com taxas que, na prática, configuram um subsídio ao setor produtivo.

"Não sei por que alguns resolveram criticar o BNDES, mas a resposta está aí, o manifesto de vários empresários, dezenas e dezenas de empresários, que vêm a público dizer o quanto foi importante o BNDES ter atuado no País", declarou.