Título: BNDES manterá juro subsidiado até o fim do ano, diz Coutinho
Autor: Rodrigues, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/08/2010, Economia, p. B8

Presidente da instituição diz que redução de taxas, instituída na crise e elogiada por associações, seguirá por alguns meses

O presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, disse ontem que a política de juros subsidiados para garantir o investimento durante a crise financeira internacional será mantida até o fim deste ano. "Essa não é uma política somente do BNDES, mas também do governo", disse Coutinho. "Os juros, que eram de 4,5% ao ano, já subiram para 5,5%."

Na quinta-feira, diversas entidades da classe empresarial, capitaneadas pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), saíram em defesa das políticas do BNDES, que teve seu caixa reforçado pela entrada de R$ 180 bilhões vindos do Tesouro, repassados ao banco com base na Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), de 6% ao ano. O dinheiro oficial, porém, é captado com base na Selic.

Segundo o BNDES, a participação da instituição no financiamento de longo prazo no Brasil cresceu de 30% para 39,6% entre 2008 e 2009. Coutinho já defendeu em diversas ocasiões que a participação do banco na concessão de empréstimos ao setor produtivo é reflexo dos juros altos ainda praticados no País.

Como o custo da captação ainda muito alto - após três altas seguidas desde maio, a taxa Selic está hoje em 10,75% ao ano -, o presidente do BNDES diz que os bancos privados têm dificuldade a oferecer dinheiro barato para o setor produtivo. "Sem contar a Caixa e o BNDES, a participação no sistema bancário em financiamentos acima de cinco anos ainda é muito diminuta." Para que essa realidade mude, defende Coutinho, a taxa Selic tem que se equiparar à TJLP.

Críticas externas. A revista britânica The Economist dedicou uma reportagem nesta semana à onipresença do banco de fomento na economia brasileira, com críticos das políticas adotadas classificando a instituição como "jurássica". A reportagem também assinala que o homem mais rico do Brasil, o empresário Eike Batista, considera o BNDES o "melhor banco do mundo". Ontem, durante evento em São Paulo, o presidente da instituição classificou o texto da Economist, de "mal informado" e "calcado em matérias brasileiras mal informadas".

Apesar de o banco ter liberado até R$ 18,5 bilhões para os setor de carnes - o que é visto pelo mercado como parte de uma estratégia de transformar Marfrig e JBS-Friboi em referências mundiais no setor -, Coutinho negou que o BNDES eleja setores preferidos para liberar financiamentos.

Segundo o presidente do banco de formento, os repasses para os gigantes do setor de carnes ocorreram por conta de uma situação imposta pela crise econômica: "O setor frigorífico passou por um ciclo de investimento muito forte, o que criou uma capacidade ociosa muito altas e gerou problemas estruturais."

Ele afirmou, entretanto, que o fato de algumas empresas de pequeno e médio porte terem ficado de fora dos repasses a juros subsidiados do banco reflete as exigências da instituição para a liberação de recursos. "Se o BNDES apoiasse empresas altamente comprometidas ou até impedidas legalmente, faria o papel de hospital", afirmou.

O presidente do banco de formento disse também que as estatísticas do BNDES mostram também que não existe tratamento especial aos frigoríficos, dizendo que 50% dos recursos liberados pela instituição têm o setor de infraestrutura como destino.

Importância

Luciano Coutinho

Presidente do BNDES

"Um processo prematuro de encolhimento do BNDES sem o crescimento (dos empréstimos) no setor privado será punitivo para a expansão do investimento no País"

"O Brasil não vai se desenvolver se não investir fortemente, se não criar capacidade na frente da demanda. A economia só cresce se (o setor privado) investir e criar capacidade produtiva"