Título: ANP e Petrobras divergem sobre valor de barril
Autor: Lima, Kelly
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2010, Economia, p. B1/3

Segundo fontes, a Petrobrás quer uma avaliação do barril a ser usado na capitalização a US$ 5 enquanto a ANP fala em US$ 8

O valor do barril do petróleo das reservas que serão repassadas pelo governo à Petrobrás promete criar um novo impasse entre a Petrobrás e a ANP. Apesar de analistas de mercado terem formado um consenso de preço por volta de US$ 6 o barril, fontes afirmam que há divergências entre a estatal e a reguladora a respeito deste valor. De um lado, a Petrobrás, puxa o preço para baixo, mais próximo a US$ 5, o que representaria US$ 25 bilhões a serem pagos pela reserva do governo. Do outro lado, a ANP pressiona por um barril de US$ 8, o que elevaria o total a ser pago para US$ 40 bilhões.

A diferença de preços decorre da interpretação dos dados disponíveis da área perfurada. A Petrobrás acredita que os dados são insuficientes, porque apenas dois poços foram furados no local. A ANP defende que os dados já permitem avaliação mais precisa. Petrobrás e ANP se recusam a comentar oficialmente o assunto. Ambas esperam a conclusão de relatório das consultorias contratadas para a avaliação.

"Há certificadoras cuidando tanto dos volumes quanto dos valores", desconversou o diretor-geral da ANP, Haroldo Lima. Na Petrobrás, desde junho os executivos cumprem período de silêncio, imposto pela CVM, que regula o mercado de capitais, na fase que antecede uma abertura de capital. Nesta sexta-feira a companhia divulga balanço trimestral, o que reforça seu "silêncio".

A lógica da companhia está principalmente em priorizar recursos da capitalização para promover seus investimentos. "O montante da capitalização já está bastante elevado e tem limites estabelecidos pelo mercado. Não dá para avançar muito para além deste limite", diz um analista sobre o total de recursos que a capitalização irá movimentar.

Fazendo as contas, ele lembrou que, considerando o valor de US$ 40 bilhões pela cessão da União, o total da capitalização ultrapassaria os US$ 100 bilhões, superando a capacidade de absorção dos investidores, avaliou. A ANP espera a conclusão dos trabalhos da certificadora GCA (Gaffney, Cline & Associates), no fim do mês. As reservas virão de áreas perfuradas nos arredores de Tupi, nos blocos batizados de Franco e Libra.

Reservas. De acordo com o diretor-geral da ANP, "é bem provável que apenas Franco seja suficiente para a cessão onerosa". A agência divulgou que Franco teria reservas estimadas em torno de 4,5 bilhões de barris.

A especificação do volume de reservas dessa área é, segundo fontes, outro motivo de divergências entre a estatal e a reguladora. O corpo técnico da Petrobrás teria discordado destas estimativas. A companhia também contratou uma certificadora independente, a De Goylier & Mc Naughton, para avaliar as áreas, com base em estudos sísmicos.

A Petrobrás, que faz o trabalho de perfuração das áreas determinadas pela ANP - já que a agência não dispõe de ferramentas nem de experiência como operadora - estima o volume de Franco em torno de 3 bilhões de barris, segundo fontes que acompanham o processo.

PARA ENTENDER

ANP e Petrobrás usam cálculos diferentes

Petrobrás e Agência Nacional do Petróleo (ANP) têm metodologias diferentes no cálculo do conteúdo nacional. A estatal não considera os equipamentos submarinos, focando seus cálculos nas plataformas de produção - em alguns casos, exclui até o valor dos cascos das embarcações. A ANP, por sua vez, inclui todos os gastos de um projeto, desde a pesquisa sísmica à plataforma de produção. Por isso, a agência impõe limites mínimos entre 37% e 55%, dependendo da fase da concessão, enquanto na estatal o piso é de 65%.