Título: Reação favorável do varejo à melhora da renda
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2010, Economia, p. B2

O crescimento do comércio varejista em junho, em relação a maio, de 1% em valores dessazonalizados, foi recebido com surpresa, na medida em que as previsões variavam entre queda de 0,50% e teto de 0,90%, e contraria previsões feitas a partir dos dados da Federação do Comércio do Estado de São Paulo. O crescimento de 2,5% do setor dos supermercados foi decisivo para o resultado global, e os dias do Brasil na Copa do Mundo afetaram apenas as vendas de automóveis e de material de construção. A queda neste caso, de 3,1%, parece fruto da escassez de oferta, mais que de demanda.

O semestre teve o melhor resultado desde que existe a série: 11,5%, o que não casa bem com as mudanças da política monetária do Banco Central. O recuo dos índices de preços, que levou o Comitê de Política Monetária (Copom) a uma atitude menos austera, talvez reflita maior importação de produtos a preços menores, e não um afrouxamento da demanda.

As perspectivas continuam favoráveis. Prevê-se para todo o ano um crescimento de 10,3% do varejo, ante 5,9% em 2009. O prognóstico é de continuidade no aumento do poder aquisitivo das famílias, apesar dos novos compromissos assumidos com os financiamentos imobiliários. A oferta de crédito continuará farta, em razão da melhoria generalizada da renda familiar.

Com os investimentos públicos previstos - e que deverão aumentar na fase final da campanha eleitoral -, a perspectiva do emprego se mantém favorável, enquanto a indústria, que tem uma visão otimista da demanda, está aumentando a sua capacidade de produção, voltando a investir.

A dúvida é a respeito do comportamento dos preços, na medida em que a piora das transações correntes se deveria traduzir por uma desvalorização do real ante o dólar e por um aumento das taxas de juros no mercado internacional.

Qual será a atitude do Copom se um novo surto inflacionário se apresentar? Parece difícil que, nas duas próximas reuniões do organismo, as autoridades monetárias, que deixaram dúvidas com a brusca alteração da sua política, mudem de atitude em plena campanha eleitoral - especialmente se a reação dos preços, como pensamos, for modesta. Somente depois das eleições é que poderão atuar, considerando que seu objetivo deve ser conter a inflação em 2011.

O que nos parece importante é que a rápida reação do comércio varejista, que deve prosseguir em julho, favorece a retomada da produção industrial.