Título: Produção industrial desacelera na China
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2010, Economia, p. B5

Apesar do menor crescimento da indústria em relação a junho, analistas afastam a ameaça de "pouso forçado" da economia, temida pelo governo

A economia da China continuou a desacelerar em julho, mas manteve ritmo de atividade forte o bastante para afastar, pelo menos por enquanto, a ameaça de "pouso forçado" temida pelo governo.

O crescimento anual na produção industrial diminuiu de 13,7% em junho para 13,4% no mês passado, enquanto os investimentos em ativos fixos caíram de 25% para 22,3% no período - esses recursos são destinados à abertura de fábricas, compra de máquinas e construção de infraestrutura e indicam a expansão da capacidade de produção do país no futuro.

Depois de o Produto Interno Bruto (PIB) crescer 11,1% no primeiro semestre, analistas de mercado alertaram para o risco de superaquecimento da economia, que era reforçado pela forte alta do preços dos imóveis e do aumento da inflação.

"A apropriada desaceleração econômica ajuda a evitar o superaquecimento, acelera a reestruturação e mantém um desenvolvimento econômico sustentável", declarou ontem o porta-voz do Escritório Nacional de Estatísticas, Sheng Laiyun, ao divulgar os números.

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu para 3,3% em julho, ante 2,9% no mês anterior, mas a alta foi atribuída às enchentes, que afetaram a produção agrícola. Os preços aos produtores caíram de 6,4% em junho para 4,8% no mês passado, um indício de que a pressão inflacionária deverá diminuir. Os alimentos tiveram a maior alta de preços em julho, de 6,8%.

"O crescimento da China está desacelerando, mas nós não vemos nenhum sinal de pouso forçado", afirmou o economista Lu Ting, do Bank of America-Merrill Lynch em análise escrita sobre os resultados de julho.

O aparente "pouso suave" da economia chinesa levou os analistas a descartarem mudanças na política monetária nos próximos meses. A possibilidade de redução da taxa de juros, por exemplo, é considerada cada vez mais remota. Ao mesmo tempo, o aumento do superávit comercial de US$ 20 bilhões em junho para US$ 28,7 bilhões em julho elevou as pressões para que a China mantenha o movimento de valorização gradual do yuan iniciado no mês passado.

A ameaça de "pouso forçado" foi amenizada ainda pelo comportamento das exportações, que subiram 38,1% em julho, para US$ 145,5 bilhões. As importações somaram US$ 116,8 bilhões, com alta de 22,7%, abaixo do esperado pelo mercado.

A construção civil também continuou a crescer, apesar das medidas de contenção da especulação adotadas nos últimos meses. "Enquanto o crescimento das exportações está desacelerando e os dados do setor imobiliário apontam para maior fraqueza no futuro, esses dois motores de crescimento tiveram resultado melhor que o esperado", disse a economista-chefe do banco UBS no país, Wang Tao.

Há três meses, o governo impôs restrições à compra de imóveis, na tentativa de evitar a formação de uma bolha no setor, que se manifestava por meio da alta recorde de preços residenciais. O mercado esfriou, mas está longe de se contrair. Apesar da queda de 15,4% nas vendas em julho, o número de novas construções aumentou 66,5% em relação a igual período de 2009.

Recuo 13,4 % foi o aumento da produção industrial da China em julho

13,7% foi o aumento da produção industrial da China em junho