Título: Produção industrial cai e preocupa UE
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2010, Economia, p. B7

Desempenho dos 16 países que adotam o euro caiu 0,1% em junho, voltando a provocar dúvidas sobre a capacidade de recuperação da economia

A produção industrial europeia sofre nova contração e os temores de que a economia possa enfrentar novas dificuldades ganham terreno. Em junho, a produção dos 16 países da zona do euro caiu 0,1%, frustrando as expectativas do mercado e voltando a gerar dúvidas sobre a capacidade de recuperação da economia do continente.

Com o fim dos incentivos de governos à compra de carros e de outros produtos, o consumo caiu de novo. Para o Banco Central Europeu, apenas uma retomada do consumo e um sistema financeiro saudável podem garantir a volta do crescimento.

Entre abril e maio, a produção havia subido 1,1%. Mas, dependente do desempenho da Alemanha, a expansão europeia voltou a cair diante da retração de 0,5% na produção alemã em junho. Com os países estagnados no sul da Europa por causa de medidas de austeridade, qualquer variação no desempenho alemão acaba afetando toda a média de produção no continente.

Mas a queda também foi elevada na França, a segunda maior economia europeia: 1,6%. Incluindo países que não usam o euro - como Suécia e Inglaterra -, a produção industrial da UE ficou estagnada em junho.

Em termos anuais, a expansão ainda foi de 8,2%, mas partindo de meses em 2009 em que a crise atingia o ponto mais crítico. A constatação da queda confirma avaliações da OCDE e de outras entidades de que o pico da recuperação já teria sido atingido e, a partir de agora, a economia dos países ricos teria dificuldades.

No mercado, a percepção é de que é cedo para dizer que a recuperação acabou. Mas, com o desempenho de Estados Unidos e China também em queda, a previsão é de que a situação na Europa siga o mesmo caminho. Hoje, a Comissão Europeia revela o resultado do segundo trimestre, que, apesar dos números de junho, continuará sendo positivo em cerca de 0,7%. Mas o mercado já aposta em um segundo semestre de estagnação.

O que por enquanto tem sido um alívio para as contas do continente são as exportações da Alemanha e da França, que voltaram a subir. Em maio, as exportações da zona do euro estavam apenas 2% abaixo dos índices registrados antes da eclosão da crise em setembro de 2008.

Fim da Ajuda. O problema, porém, é que o consumo doméstico na UE ainda está aquém dos níveis pré-crise, ante salários afetados pela recessão e taxas recordes de desemprego. Em seu relatório mensal, também publicado ontem, o Banco Central Europeu admitiu que os incentivos à venda de carros e outros bens distorciam a realidade. A tendência de empresas de refazer seus estoques também ajudou.

Com o fim da ajuda em vários países, o consumo voltou a cair. Sem recursos e com o déficit em alta, governos suspenderam os incentivos. Para o BCE, apenas um aumento no consumo e uma situação mais estável dos bancos podem abrir espaço a uma recuperação mais sólida.

SINAIS DE ALERTA

Estados Unidos Na terça-feira, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) divulgou avaliação pessimista sobre a economia do país. "O ritmo de recuperação da economia provavelmente está mais modesto no período recente do que foi antecipado", apontava o documento.

China Na quarta-feira, foi a vez da China divulgar dados que preocuparam o mercado. O crescimento anual na produção industrial diminuiu de 13,7% em junho para 13,4% no mês passado, enquanto os investimentos em ativos caíram de 25% para 22,5% no período. Esses recursos são destinados à abertura de fábricas, compra de máquinas e construção de infraestrutura e indicam a capacidade de produção do país no futuro.

Reino Unido Também na quarta-feira, uma avaliação do Banco da Inglaterra (banco central inglês) apontou que a recuperação da economia britânica não será tão forte como se esperava. Para 2011, o PIB deve crescer 2,5% e não 3,4% como previsto em maio.