Título: Petrobrás confirma capitalização para setembro
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/08/2010, Economia, p. B3

Presidente da empresa e ministro de Minas e Energia negam rumores de adiamento da operação de emissão de ações da estatal

Kelly Lima / RIO - O Estado de S.Paulo

O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, falou ontem sobre o processo de capitalização pela primeira vez desde que foi iniciado o período de silêncio dos executivos da empresa, no fim de maio. Apesar de contido nas declarações, ele confirmou que o lançamento das ações vai realmente ocorrer em setembro e descartou quaisquer planos de adiamento da operação.

"Não vamos adiar, não tem por quê", disse, negando os rumores de que o processo poderia ser adiado para depois das eleições, possivelmente para 2011. O executivo também ressaltou que o mercado está "preparado" para a operação e avaliou que a situação atual do mercado mundial não põe o processo em risco. "Não vejo nenhum problema no mercado. O mercado tem liquidez para projetos bons."

O executivo, que seguiu à tarde para Brasília, para uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ressaltou que a Petrobrás tem mais de 700 "bons projetos em sua carteira". Gabrielli fez o comentário respondendo a jornalistas, pela manhã - em evento sobre a indústria de fornecedores da cadeia de petróleo -, sobre o fato de o mercado não estar em condições de absorver uma capitalização de porte elevado, depois de vários processos semelhantes terem ocorrido este ano, especialmente na China.

Indagado sobre a necessidade e urgência da capitalização ainda neste semestre, Gabrielli comentou que é um processo fundamental para que a empresa possa voltar a se endividar. Ele destacou que a companhia tem em caixa R$ 24 bilhões e, portanto, precisa da capitalização apenas para cumprir seus investimentos no longo prazo. "Não há problemas de caixa. Precisamos da capitalização para manter investimentos nos próximos anos e para voltar a ficar com folga entre os porcentuais de 25% e 35% de alavancagem."

No balanço do segundo trimestre, divulgado na última sexta-feira, a Petrobrás informou ao mercado que a relação entre o endividamento e o patrimônio líquido da empresa estava nos 34%, bem próximo do limite de 35% estabelecido pela conduta de boa governança da estatal.

Ele destacou que a Petrobrás pretende cumprir seus investimentos de R$ 88 bilhões, previstos até o fim de 2010 (R$ 38,2 bilhões foram feitos no primeiro semestre). E afirmou que os recursos com o aumento de capital seriam utilizados apenas nos próximos exercícios. "O problema não é captar dinheiro para atender necessidade de caixa para o curto prazo, mas melhorar a estrutura de capital da empresa para que ela possa aumentar a sua dívida."

A proximidade da capitalização da Petrobrás contribuiu para puxar para baixo o dólar ontem. Ao fim do pregão, o dólar na BM&F caiu 0,86%, para R$ 1,757, e no balcão recuou 0,85%, também para R$ 1,757.

Foi o maior recuo diário desde 22 de julho, provocado pela expectativa de forte entrada de dólares no País no próximo mês. Os analistas esperam que a capitalização da estatal movimente algo em torno de US$ 60 bilhões.

Cronograma apertado. Ontem, em Brasília, o ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, informou que o governo pretende efetivar a capitalização da Petrobrás em 30 de setembro. Apesar de reconhecer que o cronograma é "apertado", o ministro afirmou que a primeira etapa da capitalização, que prevê o repasse de até 5 bilhões de barris de petróleo da União para a estatal, deve ser concluída até 31 de agosto. Na quinta-feira, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) receberá estudo elaborado por uma certificadora internacional sobre o valor que deverá ser cobrado por barril.

Ao mesmo tempo, a estatal deve receber relatório de outra certificadora. Os dois documentos serão analisados pelo governo e o valor que vai balizar a capitalização será definido pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), provavelmente no início da semana que vem. / COLABOROU RENATO ANDRADE

Argumentos

JOSÉ SÉRGIO GABRIELLI PRESIDENTE DA PETROBRÁS "Não vejo nenhum problema no mercado. O mercado tem liquidez para projetos bons."

"Não há problemas de caixa. Precisamos da capitalização para manter investimentos nos próximos anos e para voltar a ficar com folga entre os porcentuais de 25% e 35% de alavancagem."