Título: Metade das indústrias vai contratar
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/08/2010, Economia, p. B4
Pesquisa da Fiesp com 440 empresas apresenta o melhor resultado em cinco anos analisados pela entidade e supera o período pré-crise
Uma em cada duas empresas da indústria paulista pretende fazer novas contratações de empregados no segundo semestre de 2010, apesar dos sinais de desaceleração do crescimento econômico. A informação é de uma pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que ouviu 440 empresas do setor entre os dias 7 e 30 de julho. É o melhor resultado em cinco anos analisados pela entidade (desde 2006).
A marca anterior havia sido registrada na virada do primeiro para o segundo semestre de 2008, quando 45% das empresas responderam que fariam contratações no período. Os planos, no entanto, foram por água abaixo depois da quebra, em setembro daquele ano, do Lehman Brothers, o segundo maior banco de investimento dos Estados Unidos, o que desencadeou a maior crise mundial desde a grande depressão, nos anos 30.
Hoje o otimismo da indústria supera o que existia no melhor momento pré-crise. Para 71% das empresas pesquisadas, a expectativa para os negócios no segundo semestre deste ano é favorável, enquanto só 7% estão pessimistas. Até então, o melhor resultado havia sido o de 2007, quando 67% dos entrevistados se disseram otimistas em relação à segunda metade do ano.
"Analistas dizem que teremos uma redução da atividade no segundo semestre, mas as empresas não pensam dessa maneira", afirma o diretor do departamento de pesquisas e estudos econômicos da Fiesp, Paulo Francini. "Elas apostam e dizem que o semestre será bom comparativamente ao primeiro."
Mas nada que possa ser comparado ao ritmo de crescimento chinês dos três primeiros meses do ano. Na verdade, o período foi marcado por uma forte antecipação de compras, motivada pelo anúncio antecipado do fim dos incentivos fiscais oferecidos pelo governo federal, marcado para começar em abril.
"Evidente que o primeiro trimestre seria beneficiado e o segundo sofreria as consequências dessa antecipação de consumo", diz Francini. "Uma vez isso diluindo e dissipando, as coisas todas prosseguem na mesma toada que estavam."
Mesmo com o fim dos incentivos ao consumo, setores que se beneficiaram da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), como o automotivo, continuam bastante otimistas.
"Estamos caminhando a passos largos para mais um recorde anual de vendas", diz o vice-presidente da General Motors do Brasil (GM), José Carlos Pinheiro Neto.
A estimativa do executivo é de que as vendas do mercado como um todo superem 3,3 milhões de unidades este ano. Em 2009, o setor atingiu o recorde de 3,1milhões de veículos vendidos. No caso da GM, a meta é chegar a 650 mil unidades, superando a marca do ano passado, de quase 600 mil.
Os reflexos sobre o mercado de trabalho são evidentes. Só este ano, a GM já contratou 1.021 novos empregados. Desse total, mais da metade, o equivalente a 552 contratações, foram para a fábrica da montadora em São Caetano do Sul, na região do ABC paulista.
Previsões otimistas. A unidade de São Caetano vai receber investimentos de R$ 2,650 bilhões até 2012, para modernização e ampliação das linhas de produção. No total, o plano de investimento da GM para o período 2008-2012 em suas fábricas instaladas no País já supera os R$ 5 bilhões.
A previsão da montadora é de que, à medida em que os novos programas forem saindo do papel, haverá necessidade de mais contratações, o que deve ocorrer nos próximos meses.
A expansão da massa salarial e a oferta de crédito farto continuam a sustentar o consumo e, consequentemente, a produção industrial e o emprego.
O metalúrgico Jobson da Silva Gregório, de 25 anos, é um dos beneficiados por esse ciclo virtuoso. Depois de ficar um ano desempregado, Gregório acaba de ser admitido como operador de máquina por uma metalúrgica da capital paulista.
No período em que ficou desempregado, o metalúrgico aproveitou para fazer um curso de metrologia no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). "Como os salários oferecidos pelo mercado estavam muito baixos e eu tinha uma reserva da indenização que recebi na outra firma, resolvi aguardar um pouco e investir na qualificação", diz o metalúrgico. O curso teve duração de três meses.
Agora, segundo ele, a situação melhorou. Tanto que no período de três meses de experiência na empresa, ele vai ganhar R$ 1.100 por mês, cerca de R$ 100 a mais do que recebia no emprego anterior, onde ficou por quatro anos.
Caso seja efetivado, o que ele acredita que deverá acontecer, será ainda maior. E novas oportunidades também começaram a aparecer. Em menos de um mês de empresa, ele já recebeu três ligações de agências com ofertas de emprego. "Nem procurei saber dos detalhes, porque estou satisfeito."