Título: Gasto com investimento cresce 67% no ano, para R$ 25,1 bilhões
Autor: Graner, Fabio; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2010, Economia, p. B4

Resultado já levanta suspeita sobre a capacidade de o governo cumprir a meta de esforço fiscal

Para ter o que mostrar em ano de eleições, o governo pôs o pé no acelerador na conclusão de obras e já gastou R$ 25,14 bilhões nos sete primeiros meses do ano com o pagamento de despesas com investimentos.

Os gastos nessa conta cresceram 67% no ano, mas essa expansão teve como efeito colateral a realização de um superávit primário das contas do governo central (Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social) menor do que o previsto. Somente em julho, o Tesouro Nacional pagou R$ 4,54 bilhões em investimentos.

O superávit mais baixo das contas do governo evidencia que a estratégia de expansão dos investimentos não foi acompanhada de uma redução dos demais gastos, como custeio da máquina. O resultado acendeu a luz amarela sobre a capacidade de o governo manter o ritmo atual de crescimento dos investimentos sem comprometer o esforço fiscal e a confiança dos investidores.

A maior parte dos investimentos pagos - R$ 16,86 bilhões - foi de despesas contratadas em 2009 e transferidas para o Orçamento deste ano como "restos a pagar". Essas despesas incluídas nos "restos a pagar" já quitadas representaram o dobro dos gastos com investimentos do Orçamento de 2010 pagos de janeiro a julho: R$ 8,27 bilhões.

Apesar de o secretário do Tesouro, Arno Augustin, ter insistido ontem no discurso de cumprimento da meta integral de superávit, o governo se apoia na possibilidade de abatimento dos gastos.

Tudo o que o governo pagar de despesas incluídas no PAC poderá ser usado para o abatimento da meta de superávit. Ou seja, o governo pode fazer um superávit menor e mesmo assim cumprir a meta. O espaço de manobra é grande, pois os pagamentos do PAC este ano totalizaram R$ 10,66 bilhões até julho, com alta de 63%. Para Augustin, o baixo resultado primário nos primeiros sete meses de 2010 ocorreu porque a programação de pagamento de investimentos ficou concentrada nesse período, e deve diminuir o ritmo a partir de agosto.

"Os pagamentos foram alavancados pelo que foi contratado ainda em 2009", explicou, ressaltando que a arrecadação deve aumentar, melhorando o superávit. / COLABORARAM FABIO GRANER e FERNANDO NAKAGAWA