Título: Mais emprego, mas inflação precisa ser monitorada
Autor: Aiko Otta, Lu
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2010, Economia, p. B4
O resultado de julho praticamente iguala a taxa de desemprego à dos meses de dezembro de 2008 e 2009 (com índice de 6,8%), período em que tradicionalmente a taxa cai, porque diminui a procura por emprego (férias de verão) e há a abertura de vagas temporárias. Apesar de não ter sido surpresa, é uma grande notícia.
Essa taxa de 6,9% de desemprego pode ser considerada fantástica para o País, sobretudo porque a economia ainda está se refazendo dos efeitos da crise de 2008/9. A massa salarial também está crescendo, com expansão de 9,8% no salário nominal e 8,5% em termos reais ("dessazonalizada") ao ano, o que mostra que, junto com a expansão do crédito, a pressão de consumo das famílias tende a continuar muito aquecida até a virada do ano, quando ainda será reforçada pela injeção do 13.º salário e do pagamento das férias de verão. Há um contexto favorável à manutenção das contratações, com as empresas disputando mão de obra já escassa, sobretudo a de maior qualificação e com elevação do padrão salarial.
O risco dessa novidade é que a inflação, já sob controle e em níveis confortáveis, o que permitiu a interrupção dos aumentos da taxa básica de juros (Selic) pelo Copom, deixa dúvidas para o futuro. A última ata do Copom menciona um cenário de estabilidade para 2012, o que se pode considerar como alinhado com o nível da taxa de juros atual.
O dilema, entretanto, parece ser 2011. Embora não pareça ser o que deve acontecer, seria prudente mais um pequeno aumento de 0,25 ponto porcentual em setembro na Selic e uma correção mais generosa no início de 2011.
No passado recente, o Banco Central andou divulgando que a taxa de desemprego de "equilíbrio" seria perto de 8,5%. Ou seja, taxas no nível atual, rondando 7%, sugerem múltiplas pressões na economia.
Já faltam trabalhadores, os salários reais estão subindo, o consumo dispara e pode haver comprometimento do controle da inflação no futuro. Por isso, embora o calendário eleitoral não recomende, uma pequena correção nos juros seria recomendável para assegurar a manutenção das reconquistas dos postos de trabalho e dos aumentos salariais.
É PROFESSOR DE FINANÇAS DO IBMEC (RJ)