Título: Analistas consideram preço do barril elevado
Autor: Andrade, Renato; Goy, Leonardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2010, Economia, p. B1
Temor é de haver diluição dos minoritários e participação excessiva[br]da União, que pode se tornar detentora de 50% das ações da Petrobrás
SÃO PAULO, RIO - O Estado de S.Paulo
O preço de US$ 8,51 por barril para a cessão de onerosa de petróleo da União à Petrobrás foi considerado elevado por analistas do mercado financeiro, que temem diluição dos minoritários e excessiva participação do governo no processo. Segundo cálculos preliminares, os US$ 42,5 bilhões da cessão onerosa garantem à União pelo menos 50% das ações emitidas pela estatal. A Petrobrás afirmou considerar "justo" o valor anunciado.
"A expectativa é de que ocorra uma diluição da participação dos minoritários", afirmou o analista de petróleo da SLW Corretora, Erick Scott. O aumento de capital foi aprovado em até R$ 150 bilhões. Para manter a sua participação de 29,6% na estatal caso a capitalização ocorra pelo valor máximo, a União precisaria entrar com R$ 47,829 bilhões.
Já os demais acionistas, para não serem diluídos, precisariam aportar R$ 89 bilhões. "Fatalmente, os investidores pessoa física não terão condições de acompanhar a União na capitalização. Por isso a expectativa de que os minoritários serão diluídos na futura emissão de ações", explica o analista da SLW.
Em reais, a Petrobrás precisará pagar à União R$ 74,8 bilhões, o que permite que o governo participe com folga do processo de capitalização, comprando eventuais sobras de minoritários. "O valor da cessão onerosa representa quase metade exata do limite estipulado para a capitalização", aponta o consultor do Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Por causa da perspectiva de diluição, os analistas veem espaço de contestação judicial por minoritários. "Por ser tratar de transação entre partes relacionadas, os minoritários podem, eventualmente, questionar a empresa por ter aceitado pagar um valor mais alto. Isso porque pode ficar a impressão de que isso ocorreu por pressão da União, acionista controlador."
Definido o preço do barril, Scott disse que a atenção dos investidores voltará ao preço da ação no processo de capitalização. "Ainda que o preço do barril seja caro, o que vai definir o apetite do minoritário será o valor da ação", avaliou um analista, que preferiu não se identificar, que acredita numa pressão baixista sobre os papéis da Petrobrás. "A expectativa é de que a operação tenha preço do mercado."
Segundo Pires, a evolução do preço das ações nos próximos dias deve ser negativa, diante de avaliações de que o preço estipulado é alto. "O barril mais caro é ruim porque afasta investidor minoritário, mas o governo resolveu esse problema ao editar a Medida Provisória (MP) n.º 500, permitindo a entrada de outras estatais, com dinheiro, no processo." Publicada ontem, a MP foi encarada pelo mercado como uma solução para o risco de baixa participação de minoritários, que reduziria a arrecadação da empresa no processo.
Justo. O diretor financeiro e de Relações com Investidores da Petrobrás, Almir Barbassa, disse que considerou "justo" o preço médio de US$ 8,51 para a cessão onerosa de 5 bilhões de barris da União para serem incorporados às reservas da estatal. "Foi um valor adequado para o tipo de campo em potencial."
Segundo ele, o preço do barril foi obtido após consenso sobre as condições técnicas das reservas da região. A Petrobrás se comprometeu a divulgar o laudo da consultoria De Golyer & McNaughton, contratada pela estatal. Barbassa evitou adiantar informações sobre o cronograma da oferta. A Petrobrás anunciou que entregará até amanhã o prospecto da oferta à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).