Título: Copom mantém Selic em 10,75% por unanimidade
Autor: Fernando Nakagawa
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2010, Economia, p. B6
Em comunicado, BC afirma que "não espera que o nível de inflação registrado nos últimos meses se mantenha em um futuro próximo"
BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
A um mês das eleições presidenciais, o Banco Central interrompeu o ciclo de alta do juro básico da economia que elevou a Selic entre abril e julho. Em decisão unânime, tomada ontem, o Comitê de Política Econômica do BC, decidiu manter a taxa em 10,75% anuais.
A estabilidade era esperada pelo mercado, mas analistas alertam que a inflação pode não ter desacelerado o suficiente. Por isso, entre economistas, prevalece o entendimento de que o novo presidente da República precisará elevar o juro em 2011 para impedir o descontrole de preços no fim do próximo ano.
No comunicado distribuído após a decisão, o BC afirma que "não espera que o nível de inflação registrado nos últimos meses se mantenha em um futuro próximo". Ao mesmo tempo, os diretores da instituição afirmam que há "continuação do processo de redução de riscos para o cenário inflacionário que se configura desde sua penúltima reunião".
Diante desse quadro, o Copom entendeu que, neste momento, a manutenção da Selic no "nível estabelecido em sua reunião de julho proporciona condições adequadas para assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas".
Ciclo curto. Com a decisão, o mais recente esforço do BC para conter os preços durou apenas três reuniões: abril, junho e julho, o mais curto ciclo de aperto monetário do governo Lula. Na época, a alta havia sido motivada pela inflação que, com o crescimento da economia, passou a andar em ritmo mais rápido e poderia comprometer o cumprimento da meta de inflação.
Dessa vez, é a mesma inflação que motiva o fim dos aumentos da Selic.
No Copom, um dos principais argumentos para a decisão de ontem é o comportamento dos preços. Em abril, quando o juro começou a avançar, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) havia subido 0,57%. Em junho, o índice caiu para zero e ficou praticamente estacionado, com leve alta de 0,01%, em julho.
Acomodação. A desaceleração reforçou o entendimento de que não era mais necessário subir o juro. Tanto que no fim de julho o BC já havia trocado o adjetivo para avaliar o comportamento dos preços. Se os aumentos do início do ano eram classificados como resultado do "aquecimento" da economia, o tom arrefeceu e a palavra mais usada passou a ser "acomodação".
Além disso, há clara percepção do BC de que os Estados Unidos, Europa e Japão terão recuperação bem mais lenta que a prevista inicialmente.
Por isso, essa influência externa tem um caráter "desinflacionário" ou até "deflacionário" para o Brasil. Ou seja, a crise no exterior ajuda a conter os preços no País - seja por bens importados ou preços internacionais como as commodities.
Sinais contrários. Mas há sinais que apontam o contrário. Na inflação, os preços ao atacado voltaram a subir. Enquanto junho teve alta de 1,09% no segmento, o ritmo das remarcações cresceu no mês passado para 1,24%.
Outro sinal vem da indústria, cuja produção voltou a crescer após três meses seguidos de queda. Em julho, o setor teve expansão de 8,3% em 12 meses, praticamente o dobro do verificado em maio (4,5%).
Foco. "Salários em alta, desemprego na mínima histórica e crédito em expansão. Tudo isso dá sinais de que economia vai voltar a crescer de forma robusta já no fim de 2010 e também em 2011. Por isso, acreditamos que o BC precisará elevar a Selic no próximo ano em 1 ponto porcentual", diz o economista-sênior do Banco Espírito Santo, Flavio Serrano.
O foco do economista está nas estimativas para a inflação de 2011 que já sobem há duas semanas seguidas e estão em 4,87%, se afastando do centro da meta de inflação (IPCA) para o ano, de 4,50%.