Título: Governo tenta aliviar papel do BNDES
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/08/2010, Economia, p. B1

O governo ensaia medidas para criar alternativas de financiamento de longo prazo que tirem das costas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a tarefa de incentivar o investimento na economia.

No entanto, aumentar o volume de crédito para grandes obras de infraestrutura e ampliação de capacidade produtiva na indústria pode não ser suficiente para alterar a dinâmica de crescimento com baixo investimento que limita a economia do País.

Fortalecido com empréstimos de R$ 180 bilhões do Tesouro, o BNDES emprestou R$ 210 bilhões entre 2009 e o primeiro semestre deste ano. O banco contribuiu para evitar uma queda maior da atividade econômica em 2009 ao suprir a escassez de crédito provocada pela crise mundial desencadeada em 2008, mas o resultado do esforço mantido este ano não deve passar da recomposição do nível de investimento de 2008.

Desde 2006, o Brasil experimentava trajetória consistente de aumento da taxa de investimento na economia, que chegou a 18,7% do PIB em 2008. A crise fez com que ela caísse para 16,7% do PIB no ano passado, em vez dos 19,7% projetados.

Neste ano, com a política de juros de longo prazo subsidiados pelo BNDES, o governo comemora a perspectiva de 18,9% - mesmo assim, ainda distante do nível entre 22% e 25% estimado como necessário para sustentar um crescimento seguro da economia.

Segundo o coordenador do grupo de Análises e Previsões do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Roberto Messenberg, apesar de todo o esforço do governo para financiar empreendimentos pelo BNDES, o investimento continua crescendo a reboque do consumo. Ele sustenta que a dinâmica só será alterada se o governo abandonar o que chama de "liderança envergonhada" do investimento.

Para o economista, em vez de tentar influenciar o investimento privado pelo BNDES, o governo deveria investir diretamente em grandes projetos de infraestrutura, sem ter de montar quebra-cabeças com bancos públicos e fundos de pensão, e viabilizar o investimento privado no rastro deles. "A questão não é apenas de falta de financiamento de longo prazo. É preciso definir uma estratégia clara", diz Messenberg, para quem é possível elevar o investimento público direto de 3% para 6% do PIB.

Para ele, será uma obrigação do próximo governo reorientar o foco da política econômica da estabilidade para o investimento e assumir essa liderança. "Definiu-se no Brasil que o investimento vem do setor privado, mas isso não funciona. O setor privado no Brasil fica esperando o setor público e as vantagens que ele vai oferecer. O dilema que se enfrenta é sair ou não desse paradigma."