Título: PIB e IPCA
Autor: Khair, Amir
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/09/2010, Economia, p. B2
Começa a ficar mais clara a perspectiva para o crescimento do PIB deste ano, com a divulgação da evolução de 1,2% do segundo trimestre em relação ao primeiro. O mercado previa 0,7%. Isso pode sinalizar um crescimento próximo a 8%. Basta crescer 1,25% em cada um dos dois próximos trimestres, o que parece factível. Reforçam a perspectiva de 8%: o crescimento da massa salarial, com reajustes de importantes categorias profissionais acima da inflação e o aumento do número de pessoas empregadas; a expansão do crédito, com inadimplência baixa; e a confiança do consumidor.
O Índice Nacional de Expectativa do Consumidor atingiu inéditos 119,3 pontos em agosto, uma alta de 2,1% sobre julho. Para isso contribuiu a expectativa de queda do desemprego e da inflação, fatores que mais contribuíram para o aumento da confiança. Também foi detectada a percepção de melhora da situação financeira dos pesquisados, sinalizando avanço futuro nas compras de bens de maior valor agregado.
O consumo de energia elétrica aumentou 8,1% em agosto, comparado a agosto de 2009, segundo dados preliminares do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Em relação a julho, a carga que circulou pelo sistema nacional cresceu 0,5% e, no acumulado dos últimos 12 meses, 8,1% sobre igual período anterior. Segundo o ONS, esse crescimento é explicado pela consolidação da retomada da produção industrial.
A persistência do crescimento do PIB próximo a 9% nestes dois últimos trimestres, em relação aos correspondentes de 2009, também reforça a perspectiva do crescimento de 8%.
Como ocorreu antecipação de produção no primeiro trimestre, é preferível a comparação entre os dados semestrais deste ano com o anterior. Os investimentos cresceram 26,2%; a produção industrial, 14,2%; o consumo das famílias, 8%; e o consumo do governo, 3,6% (!), apesar das eleições. Portanto, há boas perspectivas de redução do Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) e de crescimento maior da produção do que do consumo, fatores importantes para a redução da inflação.
Neste ano os investimentos devem atingir 19% do PIB, o que pode garantir crescimentos do PIB superiores a 7% ao ano. Isso se justifica, pois durante 30 anos, de 1951 a 1980, o investimento foi de 19,2% do PIB e o crescimento, de 7,4% ao ano, e a produtividade dos fatores de produção naquela época era bem inferior à atual.
Inflação. Ao contrário de análises do mercado financeiro, o crescimento mais robusto não está gerando elevação da inflação. Tornou-se consenso que a inflação ocorrida no primeiro trimestre foi atípica, principalmente por causa do excesso de chuvas, que causou forte elevação nos preços dos alimentos. Cessada a causa, os preços caíram e com eles a inflação medida pelo IPCA refluiu da média mensal de 0,68%, no primeiro trimestre, para 0,57%, em abril; 0,43%, em maio; e zero, em junho e julho. Para agosto a expectativa é de valor próximo a zero, pois o IPCA-15, prévia da inflação oficial, recuou 0,05% em agosto, após queda de 0,09% em julho, pondo a taxa em 12 meses abaixo do centro da meta do ano. Caso em agosto se repita a inflação zero e nos últimos quatro meses do ano a média mensal seja de 0,34%, será possível fechar o ano no centro da meta de 4,5%. O mercado financeiro e o governo, no entanto, preveem inflação de 5%, pois normalmente ocorre um aumento sazonal nos preços de alimentos no segundo semestre e porque as negociações salariais de importantes categorias profissionais devem superar a inflação.
Seja inflação de 4,5% ou 5%, o fato que poderá ser comemorado é a ocorrência simultânea de crescimento elevado com inflação baixa, inédito no País. Isso ocorreu independentemente da ação do Banco Central, pois, segundo ele, a alteração da Selic leva de 6 a 9 meses para produzir efeito sobre o crescimento e a inflação. Assim, vai ficando cada vez mais claro que a elevação da Selic só serviu para aumentar o déficit público neste ano em R$ 10 bilhões e, se não baixar, o rombo em 2011 poderá alcançar R$ 32 bilhões!
CONSULTOR, É MESTRE EM FINANÇAS PÚBLICAS PELA FGV