Título: México prende 7 suspeitos de chacina
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/09/2010, Internacional, p. A14

Todos são membros do cartel Los Zetas, responsável pelo massacre de 72 imigrantes, incluindo 2 brasileiros, há duas semanas

O México anunciou ontem que foram presos sete pistoleiros suspeitos de ter participado do massacre de 72 imigrantes, entre eles 2 brasileiros, na localidade de San Fernando, no Estado de Tamaulipas, há duas semanas. O porta-voz do governo mexicano, Alejandro Poiré, disse que quatro criminosos foram capturados no dia 3, após tiroteio com fuzileiros navais, e outros três foram detidos "alguns dias depois", sem detalhar quando.

Poiré informou que todos os pistoleiros presos pertencem ao cartel Los Zetas, responsável pela chacina, mas não divulgou suas identidades. Segundo ele, a polícia ainda acredita que os 72 imigrantes morreram por ter se recusado a trabalhar para os narcotraficantes.

Os depoimentos dos sete detidos, de acordo com Poiré, ajudarão a esclarecer o massacre. Além deles, outros sete suspeitos de ter participado da matança foram mortos nos últimos dias.

Durante as investigações, no entanto, o governo também sofreu baixas. Na terça-feira, a polícia mexicana encontrou os corpos de Roberto Suárez Vázquez, funcionário do Ministério Público, e de Juan Carlos Suárez Sánchez, chefe de polícia de San Fernando, que investigavam a chacina. Os dois desapareceram no dia 24. A Procuradoria de Justiça estadual informou que os documentos encontrados com os dois correspondem às identidades dos desaparecidos.

Ontem, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, disse que a violência no México está caminhando para um tipo de insurgência. "Esses cartéis da droga estão demonstrando, cada vez mais, índices de insurgência", disse Hillary, em audiência no Congresso. "O México se parece cada vez mais com a Colômbia de 20 anos atrás, quando os narcotraficantes controlavam certas partes do país."

De acordo com Hillary, são necessárias coordenação técnica e vontade política para evitar que o problema se alastre ainda mais. A secretária de Estado garantiu ainda que o governo americano continuará apoiando o país vizinho na luta contra o narcotráfico. "Sinto uma grande responsabilidade em fazer tudo o que estiver ao nosso alcance."

As declarações de Hillary não foram bem recebidas pelo governo mexicano. Poiré rejeitou a comparação com a Colômbia. "Não concordamos com as afirmações, pois há diferenças importantes entre o que a Colômbia enfrentou e o que o México enfrenta", afirmou Poiré.

Para o porta-voz, o México conseguiu intervir a tempo para resolver o problema, enquanto o tráfico chegou a controlar cerca de 40% do território colombiano.

Outra diferença, segundo ele, é o grau de penetração das organizações criminosas no aparelho do Estado. "No México, as reformas institucionais em curso estão detendo o avanço dos cartéis", afirmou.

Críticas. Poiré reconheceu que a colaboração com os EUA é importante e faz parte da principal estratégia de luta contra o crime organizado, mas não deixou de criticar o país vizinho. "Existem algumas semelhanças entre Colômbia e México. A principal delas é que, em ambos os casos, os narcotraficantes se beneficiam da enorme demanda de drogas dos EUA."

O governo mexicano informou também que seis policiais morreram ontem em confrontos com narcotraficantes em Tamaulipas. Desde que o presidente do país, Felipe Calderón, decidiu endurecer a guerra contra os cartéis, em 2006, 28 mil pessoas já morreram em casos de violência ligados ao tráfico de drogas. / REUTERS, AP e AFP