Título: Empresas captam US$ 3,3 bi no exterior em 2 dias e mercado já prevê recorde
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/09/2010, Economia, p. B1

Na volta das férias no Hemisfério Norte, investidor estrangeiro renova apetite por ativos brasileiros; prazo longo e custo ""baixo"" atraem empresas

Os investidores voltaram das férias no Hemisfério Norte com apetite redobrado por ativos do Brasil. Isso já se reflete, sobretudo, nas emissões de empresas brasileiras no exterior. Entre terça-feira e ontem, ocorreram três operações, num total de US$ 3,25 bilhões. Segundo informações de mercado, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deve captar 1 bilhão nos próximos dias.

Se o ritmo for mantido até o fim do ano, 2010 terá recorde nesse tipo de transação.

O movimento tem impacto direto na taxa de câmbio. O dólar fechou ontem com desvalorização de 0,17%, cotado a R$ 1,725. A queda teria sido ainda mais expressiva se não fosse a atuação do Banco Central (BC). Pela primeira vez desde maio, a instituição realizou dois leilões de compra da moeda americana - normalmente, faz um leilão diário.

Terça-feira, a Odebrecht levantou US$ 500 milhões com um tipo de bônus chamado perpétuo - ou seja, sem prazo definido de vencimento. Ontem, a Vale captou US$ 1,75 bilhão e a Telemar (Oi), US$ 1 bilhão. Segundo executivos, Banco do Brasil e Suzano Papel também devem fazer emissões em breve.

Analistas afirmam que pelo menos três fatores explicam o bom momento. O primeiro é a farta liquidez no exterior, em razão dos juros historicamente baixos nos países desenvolvidos.

O segundo é a confiança no Brasil, fruto, entre outras razões, do selo de qualidade (investment grade) que o País recebeu em 2008 e 2009 e do crescimento superior ao do mundo.

Por fim, os juros pagos pelo País ainda são altos quando comparados a nações com nível de risco semelhante ao brasileiro.

"Eu compararia este momento que vivemos na renda fixa (emissão de dívida) com o que tivemos na renda variável (emissão de ações) em 2007", disse o vice-presidente executivo do Itaú BBA, Jean-Marc Etlin, referindo-se ao ano em que o Brasil bateu recordes em aberturas de capital (IPOs, em inglês).

O vice-presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, Alberto Kiraly, observa que, de janeiro a julho, o total de captações no exterior alcançou US$ 20 bilhões. Em igual período de 2009, foram US$ 8,4 bilhões. "A diferença principal está nos bancos, que saíram de US$ 210 milhões para US$ 8,8 bilhões." Mantido o ritmo, ele crê que o valor captado em 2010 será recorde.

Fabio Mentone, diretor do Bradesco BBI, diz que a oferta de crédito é tão alta que, nos próximos meses, é provável que setores que não estão acostumados a acessar o mercado externo o façam. "As condições vão esquentar ainda mais", afirmou.

Uma das características da bonança é o fato de que as companhias brasileiras nunca pagaram juros tão baixos (embora, em termos globais, ainda sejam taxas altas). Outra característica é o prazo mais longo./ COLABOROU ALTAMIRO SILVA JÚNIOR