Título: Brasil cai no ranking mundial de competitividade
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/09/2010, Economia, p. B4

Para o Fórum Econômico Mundial, País está entre os piores do mundo em carga tributária, regulação, corrupção e infraestrutura

Com a carga tributária mais nefasta, a pior regulação do governo sobre a economia, uma das piores taxas de corrupção e de desperdício de dinheiro público do mundo, além de um dos maiores spreads bancários, o Brasil cai duas posições no ranking das economias mais competitivas elaborado pelo Fórum Econômico Mundial. Segundo os dados revelados ontem, o País caiu da 56.ª posição para a 58.ª.

A queda reverte uma tendência positiva dos últimos anos. A reação do Brasil diante da crise fez o País subir oito lugares no ranking de competitividade entre 2008 e 2009. O Brasil passou do 64.º lugar para a 56.ª posição. Em 2007, o Brasil ocupava ainda o 72.º lugar. A pontuação do País na avaliação geral chegou a subir, passando de 4,2 pontos para 4,3 pontos neste ano. Mas isso não foi suficiente para manter sua posição no ranking. Países como Azerbaijão, Tunísia, Costa Rica e Indonésia são vistos como mais competitivos.

No topo da lista está a Suíça, seguida pela Suécia e por Cingapura. O ranking é estabelecido pelas respostas dadas por multinacionais e empresas locais a um questionário sobre a percepção de cada país. A economia americana, que ocupava a 2ª posição em 2009, caiu para a 4ª posição. Já a China é o único país dos Brics que subiu no ranking, passando da 29.ª posição para a 27.ª e superando tradicionais economias como Itália e Espanha.

Pior do mundo. O Fórum Econômico Mundial destaca pontos positivos na economia brasileira. Mas alerta quanto aos desafios. Entre os 139 países avaliados, o Brasil é classificado como o que tem o pior impacto da carga tributária sobre o setor privado. No que se refere aos indicadores que medem a regulação do governo, o Brasil era o penúltimo colocado em 2009 e caiu para último.

"Apesar do progresso feito em direção à sustentabilidade fiscal, o ambiente macroeconômico continua preocupante", afirmou o texto do Fórum. A entidade alertou para os níveis baixos de poupança e constatou que os spreads bancários são os mais altos entre os países avaliados. O endividamento público e a falta de flexibilidade no mercado de trabalho são considerados uma barreira para a competitividade.

O ranking aponta que a população não confia em seus políticos. O Brasil é considerado um dos locais onde a corrupção e o desperdício de dinheiro público têm peso significativo na competitividade. "A qualidade das instituições é considerada pobre", afirmou o Fórum. Entre os países avaliados, apenas três foram considerados piores quanto ao desperdício de verbas públicas.

Em termos de corrupção, o Brasil aparece entre os 18 piores países. Apenas 12 sociedades confiam menos em seus políticos que a brasileira.

A infraestrutura também precisa ser aperfeiçoada. A percepção é de que apenas 17 países têm uma aduana menos eficiente que a do Brasil. No que se refere aos portos, o País está na 122.ª posição entre 139 países. A qualidade das estradas também deixa a desejar e o Brasil não aparece nem mesmo entre os cem países com melhores rodovias. Já o custo da violência é um dos 16 maiores do mundo.

O sistema de educação que ainda não oferece qualidade e o nível primário das escolas está entre os doze piores. A qualidade do ensino de ciências e de matemática está entre as mais negativas. Dos 139 países analisados, o Brasil aparece na 126.ª posição. Para o Fórum, "esforços são necessários para melhorar a qualidade do ensino em todos os níveis e reduzir as disparidades no acesso à educação".

Positivo. Se os desafios ainda são enormes, o Fórum deixa claro que o setor privado é um dos mais competitivos do mundo. A sofisticação das empresas é a 31.ª do mundo, superando muitos países ricos. Em termos de inovação, o Brasil está entre os 42 melhores. A competitividade do mercado financeiro também é tida como exemplar.

O Brasil deixou a lanterna dos Brics (formado por Brasil, Rússia, Índia e China). Neste ano, aparece à frente da Rússia. Mas ainda é superado na América do Sul pelo Chile, na 30.ª posição.