Título: Brasil e China preveem freio na expansão global
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/09/2010, Economia, p. B11

Grupo bilateral criado para discutir temas econômicos acredita que ritmo de crescimento da economia será afetado pela desaceleração nos EUA e na Europa

A economia mundial crescerá a um ritmo mais moderado na segunda fase de recuperação da crise global que eclodiu em 2008, principalmente em razão da desaceleração dos Estados Unidos e da Europa, avaliaram ontem representantes dos governos do Brasil e da China reunidos em Pequim, no primeiro encontro de grupo bilateral criado neste ano para discutir temas econômicos e financeiros de interesse dos dois países.

Com visões coincidentes sobre o panorama mundial, os dois lados acreditam que as nações em desenvolvimento não podem puxar sozinhas o crescimento global e que os desenvolvidos precisam fazer o máximo para ter taxas positivas de expansão.

Em um cenário de incerteza sobre o vigor dos países ricos, os chineses disseram que buscam manter o equilíbrio entre a retirada do bilionário estímulo fiscal adotado em 2008 e a manutenção de altas taxas de crescimento, segundo pessoas que participaram das discussões.

As conversas ocorreram no âmbito da subcomissão econômico-financeira da Cosban, instituição responsável pelo diálogo bilateral em uma série de setores. Criada em abril, a econômico-financeira é a 11.ª das subcomissões da Cosban e, como todas, terá reuniões anuais.

A delegação brasileira foi chefiada pelo secretário de assuntos internacionais do Ministério da Fazenda, Marcos Galvão, e pelo diretor do Banco Central Luiz Awazu Pereira da Silva.

Câmbio. O patamar depreciado do yuan em relação ao dólar e a outras moedas, incluindo o real, esteve fora da agenda. Tema constante dos encontros bilaterais entre China e os EUA, a cotação do yuan é uma das principais queixas da indústria brasileira em relação ao país asiático. Para os industriais, o câmbio desvalorizado dá uma vantagem desleal aos exportadores chineses.

Realizado na manhã de ontem em Pequim, o encontro foi concentrado na análise da conjuntura global e na troca de informações sobre a reforma dos organismos financeiros multilaterais, especialmente o FMI, e a reunião do G-20 que ocorrerá na Coreia do Sul em novembro.

A reunião foi aberta com apresentações de ambos os lados do desempenho recente de suas economias. Os chineses disseram que estão empenhados na reforma da estrutura do PIB do país, com redução do peso das exportações e dos investimentos e aumento do consumo.

Para os brasileiros, a transição levará à apreciação do yuan e será uma oportunidade para o aumento e para a diversificação das exportações para a China, concentrada em três produtos: soja, minério de ferro e petróleo.