Título: Empresas importam de terno a carro chinês
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/09/2010, Economia, p. B3

Novas importadoras aproveitam condição favorável de câmbio e mercado

A proliferação de marcas de carros estrangeiros no País é um termômetro do crescimento acelerado do número de empresas importadoras. Em 2008, a Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva) reunia 14 associadas. No ano passado, esse número subiu para 21 marcas e, em julho deste ano, chegou a 29.

Jose Patricio/AE - 20/8/2010

Ricardo Strunz, diretor da CN Auto, que em 2008 relançou os mini furgões utilitários Towner e Topic, que passaram a ser fabricados pela chinesa Hafei Jinbei, se prepara para trazer uma terceira marca também chinesa no ano que vem: a Great Wall.

"Os segmento de mini furgões não é explorado pelas montadoras nacionais", diz o empresário, ressaltando a competitividade dos preços dos veículos importados da China. Em 2009, ele importou 4 mil veículos e neste ano serão 6,5 mil unidades. Com a nova marca, a expectativa é chegar a 15 mil veículos no ano que vem.

A China também é a fornecedora da quase cinquentenária Raphy Indústria Têxtil, de Osasco (SP), que estreia neste semestre no comércio exterior. Pela primeira vez, a confecção especializada em moda masculina vai importar ternos da Ásia.

Samuel Chammah, diretor da confecção, conta que está importando, por conta própria, cerca de 13 mil ternos neste semestre. "A prospecção do mercado externo começou motivada pela busca de tecidos e acabou no terno pronto", diz o empresário.

Com o crescimento econômico do Norte e Nordeste, a confecção, que abastece as lojas do Sudeste, decidiu atuar nessas duas regiões. Para isso, planejou o aumento da produção, com ampliação da compra de tecidos e a contratação de costureiras. Mas esbarrou em dois obstáculos.

Segundo Chammah, os tecidos nacionais não têm qualidade almejada pela empresa. Além disso, há hoje uma grande dificuldade de contratar costureiras qualificadas. A saída, diz o empresário, foi buscar matérias primas no exterior.

"Começamos na Europa e descobrimos que, na Ásia, havia ternos prontos de qualidade com preços similares aos nossos."

Apesar da estreia na importação, o empresário frisa que não pretende desmobilizar a produção local. "Temos uma fábrica de 24 mil metros quadrados e vamos continuar investindo na produção", diz. A importação, segundo o empresário, não deve passar de 30% do total de peças fabricadas no Brasil.

Veteranas. A intenção de incrementar as importações é explícita também entre as empresas que já são veteranas em comércio exterior. A mineira Suggar, por exemplo, está acelerando as importações. Neste ano, acrescentou 20 itens à lista de eletroportáteis trazidos da Ásia, que deve chegar a 150 até dezembro.

"Em dois anos, vamos ter 200 itens importados", prevê o vice-presidente da empresa, Leandro Xavier Costa. Segundo o executivo, se não houver condições de ampliar a competitividade da produção nacional, com a redução de impostos, a tendência será aumentar as importações.

Do faturamento de R$ 300 milhões da empresa previsto para este ano, 40% virão dos importados, diz Costa. No ano passado, os produtos estrangeiros responderam por 30% das vendas da companhia.

Outro segmento que está importando a todo vapor é o de equipamentos e produtos médicos e hospitalares. Entre equipamentos, luvas descartáveis e lentes, por exemplo, as compras externas cresceram 27% de janeiro a maio deste ano em comparação a igual período de 2009, segundo o diretor da Associação Brasileira dos Importadores de Equipamentos, Produtos e Suprimentos Médico-hospitalares, Reynaldo Goto.

Além do câmbio favorável, ele diz que há uma demanda reprimida grande por esse tipo de produto, especialmente agora que o segmento de saúde virou alvo de investimentos, com a formação de grandes grupos. Goto calcula que o setor deva encerrar o ano com importações acima de US$ 6 bilhões e crescimento de 15%.