Título: Em debate, o novo patamar do juro neutro
Autor: Landim, Raquel ; Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/09/2010, Economia, p. B4

O Banco Central levantou ontem um debate que promete esquentar o mercado: o novo patamar do juro neutro no País, que permitiria o crescimento sem pressões inflacionárias.

Diretores da instituição dizem que essa taxa caiu "significativamente" nos últimos anos. Para a autoridade monetária, o mercado, que trabalha com números inalterados há vários anos, estaria equivocado porque suas estimativas podem "não encontrar amparo nos fundamentos" da economia.

Na visão da autoridade monetária, uma série de fatores colaborou para a queda da taxa neutra de juros: expansão do crédito, melhora nas contas públicas, sofisticação do mercado e o sucesso do próprio BC em manter a inflação dentro da meta, o que aumenta sua credibilidade. A conclusão é que a taxa neutra menor permite ciclos menores e mais curtos de alta de juros.

Historicamente, economistas afirmaram que o juro neutro real do Brasil girava em 7% ao ano. Isso quer dizer que, para um ano em que a inflação, por exemplo, ficasse em 4,5%, seria necessário uma Selic de 11,5% para chegar à situação de equilíbrio. Esse número "mágico" sempre pautou projeções para o comportamento da Selic, da inflação e do crescimento da economia.

Mas o recado do BC foi explícito: o número não é mais esse. "O BC deixou claro que a taxa de juros neutra é mais baixa do que o mercado imagina e que a eficácia da política monetária aumentou", disse a economista da Gallanto Consultoria, Mônica Baumgarten de Bolle.

"Fizemos novos cálculos e chegamos à conclusão de que o novo juro neutro estaria perto de 5% ao ano", diz o economista-chefe da LCA Consultoria, Bráulio Borges. Se o número estiver certo e a meta de inflação continuar em 4,5%, o Brasil poderia conviver com Selic de 9,5% sem prejuízo para a inflação.

"Os argumentos para uma queda do juro neutro parecem ser inquestionáveis, mas espero que o BC volte a tratar do assunto para explicitar melhor essa visão. É bom colocar o assunto em debate", diz o economista-chefe do Banco Safra, Cristiano Oliveira.

Mas nem todos gostaram. Em relatório, os economistas do HSBC Constantin Jancso e André Loes discordaram. "Não estamos convencidos sobre a premissa do BC de menor taxa de juro neutro e, consequentemente, esperamos deterioração da inflação nos próximos meses.