Título: Exército mata 31 pistoleiros de cartéis mexicanos
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/09/2010, Internacional, p. A16

Mortes ocorreram em dois confrontos; vítimas eram membros dos Zetas, grupo responsável pelo massacre de 72 imigrantes na semana passada

Dois confrontos entre soldados e narcotraficantes deixaram um saldo de 31 pistoleiros mortos no norte do México. Dois soldados ficaram feridos nos choques. No primeiro tiroteio, na madrugada de quinta-feira, morreram 27 integrantes do cartel Los Zetas. No segundo, que ocorreu ontem, o Exército matou outros 4 membros do grupo. De acordo com a Secretaria da Defesa Nacional, o primeiro confronto ocorreu no Estado de Tamaulipas e começou quando um grupo de homens armados, detectado durante voos de reconhecimento, atacou uma patrulha militar que se havia deslocado para Ciudad Mier, na fronteira com os EUA.

Tomas Bravo / Reuters No local, foram apreendidos 25 fuzis, 4 granadas, 4,2 mil projéteis e 23 veículos. Na operação, o Exército conseguiu libertar três pessoas que haviam sido sequestradas.

As mortes de ontem ocorreram em um tiroteio em Juárez, no Estado de Nuevo León, em uma estrada que leva à fronteira com os EUA. O confronto começou após a chegada dos soldados na região, depois de uma denúncia anônima. As duas ações foram as mais duras baixas já sofridas pelos Zetas, organização criminosa responsável pela chacina de 72 imigrantes - entre eles 2 brasileiros - na semana passada.

Os Zetas foram formados em 1997 pelo narcotraficante Osiel Cárdenas Guillén, hoje preso nos EUA. Eles deveriam ser o braço armado do cartel do Golfo. Mas em 2007 houve a separação entre os dois cartéis, que começaram a disputar território e rotas de tráfico.

Mais de 28 mil pessoas já morreram por causa da violência do narcotráfico desde que o presidente mexicano, Felipe Calderón, mobilizou os militares para enfrentar os cartéis, em dezembro de 2006. Nesta semana, Calderón anunciou um pacote de medidas para tentar neutralizar o poder econômico dos grupos do crime organizado, entre as quais a proibição de transações que envolvam compra e venda de imóveis em dinheiro vivo.

A Secretaria de Segurança Pública do México afirmou ontem que os dois cartéis, Zetas e Golfo, são as organizações mais atingidas pela guerra do governo contra o narcotráfico. Desde 2006, dos 1.753 detidos, 653 - quase a metade - pertencem a uma dessas duas organizações.

Brasileiros. Um grupo de legistas da Polícia Federal do Brasil viajará para o México para ajudar na identificação das vítimas do massacre de imigrantes em San Fernando, no norte do país. Até o momento foram identificadas 47 das 72 vítimas, 21 hondurenhos, 13 salvadorenhos, 5 guatemaltecos, 6 equatorianos e 2 brasileiros. "As autoridades mexicanas querem garantir que todas as informações estão corretas e correspondem às vítimas. Por isso, serão confrontados dados e, se necessário, alguns dos exames serão refeitos", afirmou à Agência Brasil Márcio Araújo Lage, cônsul-geral do Brasil no México. "É um processo longo, demorado e minucioso. Não pode haver erro."

O jornal equatoriano El Comercio divulgou ontem trechos do depoimento de Luis Freddy Pomavilla, único sobrevivente do massacre. Às autoridades do Equador, ele relatou que entre outros possíveis sobreviventes estariam uma mulher grávida e a filha dela.

Na quinta-feira, Pomavilla já tinha declarado que havia viajado com 76 pessoas, o que significa que haveria outros 3 sobreviventes. Ontem, o vice-chanceler de Honduras, Alden Rivera, confirmou que um deles é um hondurenho. "Conversei com ele. É um rapaz corajoso", disse, sem revelar sua identidade por motivos de segurança. Segundo Rivera, ele teria ajudado Pomavilla a fugir. / AP e REUTERS

GUERRA AOS ZETAS

25 de agosto Polícia encontra corpos de 72 vítimas chacinadas pelos Zetas

31 de agosto Ataque atribuído aos Zetas mata 8 pessoas em um bar no balneário de Cancún

2 de setembro Confronto com soldados deixa 27 pistoleiros dos Zetas mortos no Estado de Tamaulipas

Ontem Exército mata outros 4 membros do cartel no Estado de Nuevo León

PARA LEMBRAR

Cartel massacrou 72 imigrantes

No dia 25, autoridades mexicanas encontraram 72 corpos de imigrantes ilegais em uma fazenda em San Fernando, na região da fronteira com os EUA. Entre as vítimas havia pelo menos dois brasileiros, além de equatorianos, salvadorenhos e hondurenhos. O grupo, que tentava entrar ilegalmente em território americano, foi morto por traficantes do cartel Los Zetas, formado por ex-militares. Foi o maior massacre relacionado à guerra ao narcotráfico no México desde 2006. Entre as vítimas estavam 52 homens e 14 mulheres. A denúncia foi feita por uma das testemunhas que sobreviveram ao massacre, um equatoriano, que foi baleado na garganta. Segundo ele, as vítimas foram executadas por rejeitar a oferta de prestar serviços para o cartel.