Título: Importação cresce cinco vezes mais que exportação
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/09/2010, Economia, p. B1/3

Avanço ocorre pelo aumento da compra de manufaturados; exportação cresce por causa da alta do preço das commodities

A taxa de crescimento das importações (38,8%) foi mais de cinco vezes superior à das exportações (alta de 7,3%) no segundo trimestre de 2010 em comparação a igual período do ano passado.

Segundo analistas, o aumento das vendas para o mercado externo foram provocadas basicamente pela valorização das commodities. A expansão das importações, por outro lado, foi pautada pelo aumento da compra de manufaturados, tanto em valor como em quantidade.

"Nas exportações, enquanto tivemos uma queda dos manufaturados em termos de quantidade, as commodities aumentaram no aspecto preço. É o contrário do que se tem nas importações, em que há um aumento de produtos manufaturados tanto em quantidade quanto em valor", afirma o presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, sobre os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Demanda aquecida. Segundo o professor Marcio Sette Fortes, do Ibmec-RJ, o aumento das importações é sinal de que a demanda continua aquecida no País.

"Existe uma demanda acima do normal, superando a capacidade de oferta, que acaba sendo atendida pelos produtos que vem de fora", explica.

Antes considerado o vilão do setor exportador, o câmbio tem recebido menos atenção. Segundo Nathan Blanche, da consultoria Tendências, o câmbio no patamar atual evita uma escalada da inflação e um aumento maior dos juros.

"O câmbio tem sido o herói deflacionário. Se não estivesse a R$ 1,70, as taxas de juros já deveriam estar rodando ao nível de 14%", afirma. "As reclamações sobre o câmbio são um cobertor para encobrir ineficiências privadas de um lado e irresponsabilidade fiscal do outro", complementa.

Importações. Segundo a gerente de contas nacionais do IBGE, Rebeca Palis, foram destaques na pauta de importação no período itens que podem ser considerados, em parte, investimento, como automóveis, caminhões, equipamentos elétricos e material elétrico.

Para Blanche, a importação desses itens é indispensável para que a indústria nacional continue crescendo.

"Das importações, 65% são insumos e componentes. Isso é um sinal de que o nível de utilização da capacidade industrial hoje se encontra no nível pré-crise. Se o dólar não estivesse nesses patamares, o que seria da inflação, da oferta e da indústria (nacional)?", questiona.

Castro, da AEB, estima que, até o fim do ano, a contribuição do comércio exterior no Produto Interno Bruto (PIB) será negativa. Ou seja, as importações vão responder por parte do PIB que poderia ser atendido pela produção nacional.

Carga tributária. Castro afirma que é preciso reduzir a carga tributária e a burocracia para que as exportações de manufaturados possam crescer.

"No Brasil há 16 órgãos e ministérios envolvidos no comércio exterior. Cada um deles atuando isoladamente. Esse conjunto de fatores é o que gera o famoso custo Brasil", afirma.

Na comparação do segundo trimestre de 2010 com os três primeiros meses do ano, as exportações brasileiras cresceram 1,0%. Já as importações aumentaram 4,4% no mesmo período.

Balança comercial

38,8% foi o quanto cresceu a taxa das importações no segundo trimestre de 2010

7,3% foi o quanto cresceu a taxa das exportações no mesmo período

65% do total das importações no segundo trimestre do ano são insumos e componentes

4,4% é quanto as importações cresceram no segundo trimestre de 2010, na comparação com os três primeiros meses do ano