Título: Alta surpreendente eleva pressão sobre BC
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/09/2010, Economia, p. B1/3

Para analistas, autoridade monetária assumiu risco muito alto ao [br]interromper ciclo de elevações da taxa básica de juros (Selic)

O crescimento acima do esperado no 2.º trimestre colocou em dúvida o argumento do Banco Central (BC) de que a economia brasileira estaria em processo desaceleração. Para analistas, o dado mostrou que o País continua se expandindo fortemente - ainda que em ritmo inferior ao do 1.º trimestre - e deixou claro que o BC assumiu um risco muito alto ao interromper o ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic). A favor do BC pesa o fato de a inflação nos últimos 12 meses estar bem próxima da meta de 4,5%.

"O BC julgava (pela sua sinalização) que havia desaceleração maior. Com esse desempenho, a inflação vai crescer. A aposta do (Henrique) Meirelles não foi boa. Banqueiros centrais têm de ter cautela", disse o ex-presidente do BC, Affonso Celso Pastore.

"A decisão do BC de parar de subir o juro pode se revelar acertada com o tempo, mas foi mais arriscada do que costumava ser no passado", observou o economista da JGP Gestão de Recursos Fernando Rocha.

Para o economista-chefe do Santander e ex-diretor do BC, Alexandre Schwartsman, se a economia acelerar no terceiro e quarto trimestres, "o BC terá de repensar sua estratégia, pois parece contar com o PIB crescendo pouco abaixo do potencial daqui para frente".

Revisão. A divulgação do PIB acima do previsto também levou economistas de consultorias, bancos e corretoras a elevar a previsão para 2010.

Bráulio Borges, economista da LCA Consultores, previa 6,6% de alta do PIB este ano. Depois da divulgação dos dados do IBGE, a projeção passou para 7,3%. "Não esperamos por mudanças nos números calculados para o 3.º trimestre e o 4.º trimestre. A surpresa veio mesmo com os números do 2.º trimestre."

Thays Zara, economista-chefe da Rosenberg, passou sua previsão para o PIB de 2010 de 7% para algo mais próximo de 7,5%.

A estimativa de Cassiana Fernandes, economista da Mauá Sekular, é mais otimista. Ela revisou os números do PIB de 7,2% para 7,8%. "Trabalhamos com aumento de 1% para o 3.º trimestre e o 4.º trimestre volta a acelerar, com 1,2% de alta", prevê.

Um dos efeitos da revisão do PIB pode ser uma decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de aumentar a taxa básica de juros, a Selic, a partir do início de 2011. "O BC pode se chatear um pouco com o comportamento da inflação e mexer nos juros", analisa Borges.