Título: Segundo BC, alta é efeito estatístico
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/09/2010, Economia, p. B1/3

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, falou poucas horas após o anúncio do PIB para mostrar que o ritmo de expansão não pegou o BC de surpresa. E previu alta de cerca de 0,7%, em média, para os próximos trimestres.

A lógica do BC é que o resultado do segundo trimestre se deve a um efeito estatístico: a economia ficou acomodada num patamar alto ao longo do segundo trimestre - no mesmo nível do final do primeiro trimestre, que havia registrado crescimento mês a mês.

A alta apontada pelo IBGE teria vindo da comparação da média entre os dois períodos e não de um crescimento real no segundo trimestre.

Segundo Meirelles, há "crescimento nulo" desde abril. Ou seja, a economia estacionou em um patamar maior que o visto no primeiro trimestre.

Após divulgar nota no fim da manhã com comentários sobre o PIB, Meirelles convidou a imprensa para mais esclarecimentos no meio da tarde. Aos jornalistas, o presidente do BC argumentou que o dado do IBGE só mostra uma fotografia do trimestre, sem detalhamento mensal da economia. Esse retrato mês a mês, diz ele, pode ser obtido pelo novo Índice de Atividade Econômica produzido pela própria instituição, o IBC-Br.

Meirelles argumenta que esse indicador consegue mostrar a evolução mensal da atividade. Durante a entrevista, o presidente do BC mostrou que o índice teve expansão de 1,3% no segundo trimestre, ritmo comparável à expansão de 1,2% do PIB.

Mas quando se leva em conta o desempenho do IBC-Br mês a mês o resultado é bem distinto: crescimento de 0,23% em abril, retração de 0,06% em maio e leve alta de 0,02% em junho. É essa evolução mensal próxima de zero desde abril que Meirelles classifica como crescimento "praticamente nulo".

Previsão. Meirelles aposta em expansão "moderada" nos próximos trimestres. Ele manteve a previsão de que o PIB deve fechar o ano com crescimento de 7,3%. Contando com o desempenho acumulado de janeiro a junho, a economia deverá crescer apenas 0,7% em cada um dos dois últimos trimestres do ano para que seja atingido a previsão de expansão do BC.

O argumento de Meirelles tenta rebater críticas de parte do mercado que usou os números do PIB para questionar a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de interromper esta semana o ciclo de aumento do juro. Com o entendimento de que a atividade econômica passa por acomodação e a inflação está em desaceleração, os diretores do BC optaram por encerrar o ciclo de alta da Selic que ocorreu entre abril e julho. Mas, para parte dos economistas, a pressão nos preços continua e, por isso, era preciso continuar com o aumento do juro. Para esse grupo, o PIB mais forte que o previsto corrobora com tal leitura.