Título: Se não houver crescimento no segundo semestre, o PIB já cresce 7% este ano
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/09/2010, Economia, p. B1/3

Para o economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, o resultado do PIB mostra que a desaceleração foi menor do que se pensava, com o PIB continuando a crescer perto ou acima do seu potencial. O que o sr. achou do PIB do segundo trimestre?

A gente achava que a desaceleração seria maior, que ia dar 0,6% (ante o trimestre anterior), e acabou sendo 1,2%, ou 5,1% anualizado. O que mostra que, mesmo com a desaceleração, ainda dá um crescimento pouco acima do potencial, ou em torno dele. O potencial, para nós, está entre 4,5% e 5%.

Por que surpreendeu?

Alguns itens vieram mais altos do que se imaginava. No lado da oferta, a agropecuária e a indústria. Na demanda, o que surpreendeu foi gasto do governo.

Não era de se esperar em ano eleitoral?

Já tínhamos previsão forte, mas veio ainda mais.

O que o PIB revela da economia brasileira?

É um PIB que mostra que a economia está crescendo bem, obrigado. Todos os componentes continuam a crescer, e a demanda cresce mais que a oferta. Na verdade, a gente achava que a oferta ficaria um pouco mais baixa, quando comparada à demanda, e a diferença seria fechada pela conta corrente. A oferta está reagindo um pouquinho, e isso significa que o Produto Interno Bruto está mais próximo da nossa previsão, de 7,5%, do que dos que apostam em número mais baixo. Com o carregamento estatístico, se não houver crescimento no segundo semestre, o PIB já cresce 7% este ano. Pode dar até mais que nossa projeção de 7,5%, mas vou manter.

E como fica o equilíbrio macroeconômico?

A demanda terá de desaquecer, ou o déficit em conta corrente vai abrir mais, ou vai dar inflação. Nossa previsão é de que vai ocorrer um pouco de cada.

A inflação sobe para quanto?

Acima de 5% este ano, entre 5% e 5,5%, e ano que vem também em torno desse número.

E o Banco Central?

O BC tem o seu cenário, hoje saiu até uma nota sobre o PIB dizendo que esse resultado já estava na conta deles.

Mas, com esse PIB de hoje, a atuação recente do BC pode ser interpretada como mais acomodatícia do que se pensava?

Não dá para saber, tudo vai depender do crescimento da demanda daqui por diante. E hoje você pode ter dois cenários. Um em que continua crescendo do jeito que está e outro em que o desaquecimento no mundo e nos Estados Unidos venham a desaquecer a economia brasileira também. Então é legítimo ter dois cenários, eles estão com um, e a gente acha que vai continuar a crescer.

E o déficit em conta corrente?

Deve continuar subindo, para algo em torno de 2,5% do PIB esse ano, e acima de 3% no ano que vem, talvez 3,5%. /