Título: Eleições turbinam gastos governamentais
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/09/2010, Economia, p. B1/3

Gastos da administração pública crescem 2,1%, bem mais do que a alta do consumo das famílias

Em meio a reiterados discursos oficiais sobre corte de gastos para manutenção da política de austeridade, o governo surge nas estatísticas do PIB do segundo trimestre com despesas em alta. O consumo da administração pública aumentou 2,1% no trimestre, em relação aos primeiros três meses do ano, que haviam registrado alta de 0,8%.

Foi um sinal inverso ao do consumo das famílias que, embora, tenha subido 0,8%, reduziu o ritmo de crescimento. O diagnóstico para o avanço dos gastos do governo veio do próprio IBGE: "A aceleração no consumo da administração pública é explicada pela época de eleições nas esferas federal e estadual", disse Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais do IBGE.

A aceleração dos gastos antes das eleições pode ser confirmada em períodos anteriores de campanha presidencial: em 1998, no primeiro trimestre, o avanço foi de 1,7% e, no segundo, de 2,5%, consolidando a inversão das taxas negativas do ano anterior. Movimentos parecidos ocorreram em 2002 e 2006.

O economista-sênior do BES Investimento, Flávio Serrano, projetava alta de 0,4% para o consumo do governo e se surpreendeu com o resultado. "Em termos anualizados, esses 2,1% representam uma alta de 8,66%, que é muito forte", comentou.

Para Serrano, foi o avanço firme das despesas públicas que estimulou o PIB acima do esperado.

Em julho, o superávit primário atingiu 2,03% do PIB no acumulado em 12 meses, o que representou uma queda ante o resultado contabilizado em junho, quando chegou a 2,03% do PIB na mesma base de comparação.

"O governo diz que reduziu os gastos oficiais, mas isso aparentemente não ocorreu. Então, na prática, só resta ao Banco Central realizar o controle do excesso de expansão da demanda agregada que ocorre no mercado doméstico", disse.