Título: Capitalização pode tornar Petrobras a 2ª das Américas
Autor: Pamplona, Nicola ; Lima, Kelly
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/09/2010, Economia, p. B8
Estatal espera levantar até R$ 126,7 bilhões com a venda de ações, em processo que deverá ser o maior da história e aumentará fatia da União
A Petrobrás divulgou ontem as bases de seu processo de capitalização, que deve ser o maior da história global e levará a estatal a disputar com a Apple o posto de segunda maior empresa das Américas em valor de mercado. Tomando por base o valor das ações no último dia 1.º, a Petrobrás espera levantar até R$ 126,7 bilhões com a venda das novas ações, processo que vai levar a um aumento da participação da União na companhia.
A divulgação dos detalhes e prazos provocou uma corrida por ações da companhia na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), após meses de queda. As ações ordinárias (com direito a voto) subiram 4,71% e as preferenciais, 4,35%.
Segundo o prospecto enviado ontem à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Petrobrás vai emitir 3,7 bilhões de ações, numa operação dividida em três etapas, com fechamento previsto para o fim de outubro (mais detalhes na página ao lado). O documento diz que a União e o BNDESPar já pediram a reserva de R$ 74,8 bilhões em ações. O valor é semelhante ao arrecadado pelo governo na venda de 5 bilhões de barris à companhia.
Na avaliação do mercado, o governo sairá do processo com maior participação na empresa, percepção reforçada por declarações de ontem do ministro da Fazenda, Guido Mantega. "O governo vai participar cumprindo suas prerrogativas legais, ou seja, na participação das ações que já possui na empresa ou até um pouco mais."
A própria estatal, em simulações feitas no prospecto, prevê um aumento dessa fatia. As projeções consideram que a participação de União e BNDESPar no bloco de controle pode subir de 57,5% para até 59,15%, sem contar a eventual compra de sobras por instituições ligadas ao governo, como o Fundo Soberano do Brasil (FSB) e bancos estatais.
O controle estatal é um dos riscos para os acionistas citados no documento. "Os interesses da União, nosso acionista controlador, podem ser divergentes ou conflitantes com os interesses dos nossos outros acionistas, inclusive para orientar os nossos negócios com o fim de atender ao interesse público."
"Fica patente que o governo enxerga no setor petrolífero um meio para pôr em prática políticas desenvolvimentistas, o que justifica seu interesse em ampliar a participação no capital da Petrobrás", comentou o consultor Walter de Vitto, da Tendências. Entre essas práticas, analistas citam os vultosos investimentos em refino e a preferência a fornecedores nacionais.
Se bem-sucedida, a capitalização colocará a Petrobrás na disputa pelo segundo lugar entre as maiores companhias das Américas em valor de mercado - hoje, é a 12.ª. A empresa projeta um salto em seu valor de mercado para pelo menos R$ 386 bilhões, a valores de 1.º de setembro, com a venda das novas ações previstas.
Cálculo feito pela Economática a pedido do Estado aponta que a empresa ficaria com um valor de US$ 221,3 bilhões, bem próximo dos US$ 228 bilhões da Apple, hoje a segunda colocada. A líder é a Exxon, com US$ 310 bilhões. / COLABOROU FRANCISCO CARLOS DE ASSIS