Título: Colonos ignoram ordem e retomam construções
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2010, Internacional, p. A12

Em pelo menos dois assentamentos da Cisjordânia, obras recomeçam apesar de vigência da moratória

Em desafio à medida que congelou por dez meses as novas construções nos assentamentos judaicos da Cisjordânia, os colonos têm retomado as obras por conta própria na região. Essas construções são um dos temas-chave das negociações diretas entre Israel e a Autoridade Palestina, em Washington.

De acordo com Naftali Bennett, diretor do Conselho Yesha, que representa os colonos, até a semana que vem várias construções serão reiniciadas em vários outros pontos da Cisjordânia. "Decidimos que a retomada das construções não é um ato simbólico e estamos nos organizando para estendê-la a outros pontos. O congelamento terminaria de qualquer maneira no final do mês (dia 26). Os dois atentados dos últimos dias apenas anteciparam a retomada das atividades", disse Bennett ao Estado, referindo-se aos ataques a tiros de terça-feira, que deixaram quatro mortos, e do dia seguinte, que feriram dois israelenses.

Tratores podem ser vistos em atividade no assentamento Adam, próximo a Jerusalém, onde foi retomada a construção de um centro comunitário, paralisada pela moratória.

"Depois do segundo atentado, começamos a trabalhar na construção de mais um prédio público. Para cada atentado, construiremos outro edifício. Se os palestinos querem paz, devem paralisar as atividades do Hamas antes de exigir que nós paralisemos nossas vidas", afirma Beber Vaanunu, líder comunitário e um dos fundadores de Adam.

Criado há 26 anos, o assentamento é habitado por 1.300 famílias, quase todas seculares, que buscaram o local por oferecer moradia mais barata do que Jerusalém e não pela ideologia de povoar a região.

"Não temos mais escolas para nossas crianças ou casas para os jovens casais que querem morar perto de seus pais, as construções precisam ser reiniciadas", afirma Lidia Konsberg, de 27 anos. Mas há quem acredite que a decisão dos colonos não passa de uma estratégia para atrair a atenção da imprensa e exigir benefícios do governo de Israel.

"Ninguém vai construir sem a autorização do governo, pois não temos dinheiro para jogar fora. Mas estamos aqui porque o Estado de Israel autorizou a fundação da colônia 26 anos atrás e deve permitir a construção de nossas casas. E tem a obrigação de nos proteger. Deixar a colônia é abrir mão da nossa pátria. Somos enviados de Deus para povoar a terra que nos foi dada", afirmou Yair Lior, morador e porta-voz do assentamento de Beit Hagai, citando versículos da Bíblia. Lior acredita que o Exército deve reagir com violência aos ataques palestinos.

Os quatro mortos na terça-feira eram moradores do local. Desde a fundação de Beit Hagai, sete moradores morreram em diferentes ataques de radicais palestinos. Os palestinos ameaçam suspender o recém-iniciado diálogo direto de paz, caso Israel não renove a moratória.