Título: Abbas e Bibi marcam nova reunião nos dias 14 e 15 para tentar acordo de paz
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2010, Internacional, p. A12

Solução adiada. Primeiro-ministro de Israel e presidente da Autoridade Palestina acertam método para alcançar um tratado no prazo de um ano e se comprometem a continuar as negociações no balneário egípcio de Sharm el-Sheikh, daqui a duas semanas

(AP) concordaram ontem em realizar a primeira rodada de negociações de paz nos próximos dias 14 e 15. Diante da secretária de Estado, Hillary Clinton, ambos acertaram ainda o método para alcançar o tratado de paz no prazo de apenas um ano - primeiro, tratarão das diferenças gerais em um acordo-base e, depois, passarão às discussões dos detalhes mais espinhosos.

Entretanto, nos últimos dois dias de conversas em Washington, Tanto o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, quanto o presidente da AP, Mahmoud Abbas, não deram nenhum sinal de concessão sobre as questões urgentes.

Esse comportamento fora notado dois dias atrás, quando o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou o início de negociações diretas depois de se encontrar, em separado, com Abbas e Netanyahu e também com o presidente do Egito, Hosni Mubarak, e o rei da Jordânia, Abdullah II.

Em público, ontem, Netanyahu esquivou-se de responder ao repetido apelo de Abbas para que os assentamentos israelenses em territórios palestinos continuem congelados a partir do dia 26 (mais informações nesta página) e para que o embargo de Israel à Faixa de Gaza, destinado a debilitar o movimento radical Hamas, seja suspenso.

O primeiro-ministro israelense já se manifestara contrário à prorrogação da medida que congelou os assentamentos em ocasiões anteriores e mostra-se indisposto a abrandar o bloqueio à Faixa de Gaza.

Abbas, por seu lado, somou-se ao dueto americano e israelense na condenação ao atentado de terça-feira, atribuído ao Hamas. Insistiu que as forças policiais estão perseguindo os autores do ataque, que matou quatro colonos israelenses.

Politicamente vulnerável, o líder palestino preferiu não se comprometer a conversar com o grupo extremista que controla politicamente a região palestina de Gaza.

Os dois líderes, entretanto, renovaram seus compromissos de fazer todos os esforços possíveis para concluir o acordo, que envolverá questões sem solução há mais de 60 anos, para a criação de um Estado palestino.

Entre eles estão a definição de fronteiras, o acesso de ambos às fontes de água, os assentamentos israelenses em áreas da Autoridade Palestina, o destino dos refugiados que deixaram o território onde hoje é Israel depois de 1948, os prisioneiros palestinos e as necessidades de segurança de Israel. Outro ponto divergente importante diz respeito ao status de Jerusalém Oriental, anexada unilateralmente por Israel durante a Guerra dos Seis Dias, de 1967, e reivindicada pelos palestinos como capital de seu futuro Estado.

Netanyahu chegou a repetir que considera Abbas seu "parceiro na paz". "Creio ardentemente que os dois homens sentados a meu lado são os líderes que podem tornar realidade esse sonho acalentado por tão longo tempo", afirmou Hillary Clinton. "Indiscutivelmente, haverá obstáculos e contratempos. Todos os que se opõem à causa da paz vão tentar de todas as formas possíveis sabotar esse processo, como já vimos nesta semana", completou, referindo-se ao Hamas, que ontem prometeu uma onda de ataques contra Israel.

Segundo o senador George Mitchell, enviado especial da Casa Branca para o Oriente Médio, a rodada dos dias 14 e 15, em Sharm el-Sheikh, serão seguidas por encontros quinzenais. Essa primeira conversa será acompanhada por Hillary. O acordo-base, conforme explicou, "será mais detalhado que uma declaração de princípios, mas menos completo do que um tratado". O objetivo será apontar os compromissos fundamentais para que os dois lados alcancem um acordo de paz que possa ser adotado.

"As diferenças são muitas, são profundas, são sérias e demandarão de ambos os lados negociações sérias e de boa-fé, sinceridade e uma vontade de fazer as difíceis concessões, se o acordo for alcançado", afirmou Mitchell.

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