Título: Traficante relata início da guerra de cartéis no México
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2010, Internacional, p. A14

Violência começou com a disputa por Ciudad Juárez, ponto estratégico no envio de droga para os EUA, diz chefão em depoimento à polícia

Em depoimento à polícia mexicana, o narcotraficante Edgar Valdéz Villarreal, conhecido como "La Barbie", preso na segunda-feira, revelou detalhes da guerra entre cartéis no México. Segundo ele, o confronto generalizado entre grupos criminosos começou por causa da disputa pelo controle do tráfico em Ciudad Juárez, principal rota de passagem da cocaína para os EUA. Segundo Valdéz, havia um acordo de não agressão firmado pelos principais chefões do tráfico, em 2007, mas que foi descumprido por Joaquín "El Chapo" Guzmán, homem forte do cartel de Sinaloa. Ele queria controlar Ciudad Juárez e começou a executar integrantes do cartel de Juárez, comandado por Vicente Carrillo Fuentes.

Em seu testemunho, o traficante não escondeu sua repulsa pelo cartel Los Zetas, responsável pela chacina de 72 imigrantes na semana passada. Segundo Valdéz, os Zetas são um "perigo" para as demais organizações criminosas do México, pois "não respeitam os acordos". "Nem a própria mãe os quer."

Valdéz disse também que escondeu o homem que atirou no atacante paraguaio Salvador Cabañas, jogador do América do México. Segundo "La Barbie", José Jorge Balderas Garza, conhecido como "JJ", que em janeiro deu um tiro na cabeça do paraguaio em um bar da capital mexicana, é seu amigo.

"Eu o coloquei em um escritório por três meses", disse. Investigadores suspeitam que Valdéz tenha mandado matar Cabañas porque ele teria um caso com a atriz Arleth Terán, namorada do narcotraficante.

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) do México anunciou ontem que os cartéis adotaram uma nova forma de enviar cocaína para os EUA: por ultraleve. Cada avião pesa cerca de cem quilos e pode carregar outros cem de mercadoria. Segundo Francisco González, subsecretário de tecnologia da SSP, os ultraleves funcionam com um motor, são econômicos e não podem ser detectados por radares. Além disso, têm a capacidade de pousar em terrenos baldios ou em qualquer descampado.

Quando cruzam a fronteira, traficantes que atuam nos EUA levam a droga e abandonam os aviões. González explica que a operação é extremamente lucrativa. Primeiro, porque os ultraleves são baratos - a maioria é de fabricação caseira. Depois, o quilo da cocaína, que vale US$ 8 mil no México, salta para US$ 30 mil quando chega aos EUA.

Segundo González, a droga é comprada a US$ 1,7 mil na Colômbia. A esse preço, cada voo de ultraleve rende US$ 2 milhões aos narcotraficantes mexicanos, segundo cálculos da SSP.

Ernesto Cordero, secretário mexicano da Fazenda, disse ontem que o crime custa ao México US$ 11,7 bilhões ao ano - 1,2% do PIB do país. "O esforço de ter um estado de direito com problemas de segurança e complicações na aplicação da lei tem um impacto na taxa de crescimento do PIB de 1,2%", declarou. Segundo Cordero, a onda de violência ainda não afetou os investimentos externos no México.

Matadores. Pelo menos supostos 25 matadores de aluguel morreram ontem durante confronto com o Exército mexicano no município General Treviño, no Estado de Nuevo Leon (norte). Os militares resgataram três sequestrados. / REUTERS, AFP e AP