Título: O comércio varejista em tempo de normalidade
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2010, Economia, p. B2

As vendas varejistas em julho, com aumento de 0,4% (ajuste sazonal), cresceram menos do que nos dois meses anteriores (1,5% e 1%), o que poderia sugerir um recuo da demanda doméstica. Diversos fatores explicam esse recuo: o aumento do endividamento das famílias a partir da expansão do crédito imobiliário, o fim dos incentivos fiscais e, finalmente, as férias escolares. Isso justifica a opinião de alguns economistas que falam de um crescimento mais limpo. O que não significa que nos próximos meses a demanda doméstica vá crescer menos ou decrescer. O ambiente econômico continua favorável à sustentação da demanda, que, aliás, a produção da indústria nacional vem confirmar.

Registram-se acordos salariais muito acima da inflação e o crédito para as pessoas físicas mostra uma evolução favorável. Dois fatores poderiam afetar a tendência de um terceiro trimestre bom para o comércio: um aumento dos preços, decorrente de uma taxa cambial menos desvalorizada, que hoje permite a importação de bens a preços atraentes; e uma volta da inflação, que em todo caso seria muito limitada. A indústria continua a investir, excluindo-se, portanto, qualquer desequilíbrio entre a demanda e a oferta.

Convém levar em conta que, nos sete primeiros meses do ano, o comércio varejista apresentou crescimento de 10,9% (12,4%, se considerarmos o comércio ampliado, que inclui as vendas de veículos e de material de construção), muito superior ao do PIB, que para o exercício de 2010 deverá crescer em torno de 7,5%.

Quanto aos resultados do comércio varejista por setores, é evidente que a eliminação dos incentivos teve um efeito sobre o volume de vendas: o setor de informática e comunicações recuou 4,4% e o de móveis e eletrodomésticos, 0,5%, refletindo, ambos, o aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

Pode-se considerar anormal o crescimento de apenas 0,1% do setor dos supermercados e produtos alimentícios, que tem o maior peso no índice geral. É que, de um lado, as lojas dos hipermercados vendem também itens que nos meses anteriores foram objeto de redução do IPI e, de outro lado, com o período das férias, que traz gastos novos, a demanda nessas lojas se reduziu.

O fato é que, dos dez itens analisados, seis continuam apresentando um aumento na margem, o que não permite que se fale em queda da demanda doméstica. Nos próximos meses, a elevação dos salários e o aumento do nível do emprego continuarão alimentando a demanda interna.