Título: Petrobrás vai pagar R$ 74 bilhões por áreas do pré-sal que já foram suas
Autor: Pamplona, Nicola ; Lima, Kelly
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2010, Economia, p. B1

Campos incluídos na cessão onerosa do processo de capitalização já estiveram, total ou parcialmente, sob concessão da estatal

RIO - A Petrobrás aproveitou as negociações para a cessão onerosa para reaver áreas do pré-sal que já teve sob sua concessão, mas acabou devolvendo ao governo por razões diversas. Segundo levantamento feito a pedido do Estado pela consultoria especializada Stratageo, todos os sete campos incluídos na cessão onerosa já estiveram, total ou parcialmente, sob concessão da estatal, que agora pagará R$ 74 bilhões para ter as áreas de volta.

O caso mais emblemático é Franco, principal reservatório da cessão onerosa, com reservas estimadas em 3,1 bilhões de barris. Boa parte de sua área está sobre dois antigos blocos exploratórios herdados pela Petrobrás ao fim do monopólio, BS-4 e BS-500, onde a estatal realizou descobertas no pós-sal mas devolveu à Agência Nacional do Petróleo (ANP) a região com potencial no pré-sal.

No BS-4, que teve contrato de parceria assinado com a Shell, há as descobertas de Atlanta e Oliva, ainda sem definição sobre futura produção. No BS-500, a Petrobrás fez importantes descobertas de gás, como Tambaú e Uruguá, prestes a entrar em operação. O poço Franco, perfurado pela ANP, está na área que pertencia ao BS-4.

Segundo um experiente geólogo, que já integrou o corpo técnico da ANP, a devolução foi fruto de dificuldades tecnológicas, na época, de identificar reservatórios petrolíferos abaixo da camada de sal. "Apenas a partir de 2000 os estudos sísmicos começaram a traduzir em imagens o que existia no pré-sal", explicou.

Ele ressalta, porém, que já havia entre os geólogos brasileiros expectativas da existência de óleo abaixo da camada de sal, após pesquisas sobre o DNA de alguns tipos de petróleo descoberto no pós-sal. "Mas não havia recursos técnicos para identificar locais exatos para a perfuração de poços", completou. Parte da área de Florim, também incluída na cessão onerosa, também fazia parte do BS-500.

Em outros casos, como as áreas denominadas pelo governo como Iara Entorno, Tupi Sul, Tupi Nordeste e Guará Leste, a estatal já tinha conhecimento do pré-sal, mas teve de devolver parte das concessões por causa do fim dos prazos exploratórios. As três primeiras eram partes do bloco BM-S-11, onde estão os polos de Tupi e Iara. A última, do bloco BM-S-9, onde está a descoberta de Guará.

Os contratos desses blocos previam a execução de três períodos exploratórios, com a devolução de partes da concessão remanescente no fim de cada período. Em 2004, a Petrobrás e seus parceiros devolveram 50% da área dos blocos, por força contratual. Em 2007, deveriam ter devolvido mais 25%, mas um acordo com a ANP permitiu a manutenção dessa área, onde estão alguns dos grandes reservatórios do pré-sal.

Em teleconferência com analistas realizada quinta-feira, o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli comentou que a incorporação dos 5 bilhões de barris representa o crescimento de 35% nas reservas da empresa, em um momento de dificuldades de acesso a grandes reservas mundiais. Segundo ele, com a produção desse petróleo, a estatal "acelera seus planos de se tornar a maior produtora de petróleo entre as supermajors (termo que define as grandes petroleiras privadas globais)." A primeira produção nas áreas da cessão onerosa está prevista para 2015, no projeto Franco.