Título: Protecionismo afeta 13% das vendas à Argentina
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/09/2010, Economia, p. B4
As medidas protecionistas do governo Cristina Kirchner afetam 13% das exportações brasileiras à Argentina, segundo disseram ao Estado os economistas da consultoria Abeceb. No primeiro semestre, o impacto das medidas alcançou US$ 990 milhões.
O leque de medidas protecionistas argentinas é amplo, e abrange desde licenças não automáticas, medidas antidumping, valores-critério, compromissos de preços e monitoramento, entre os quais estão os produtos sob os quais pairam os acordos batizados com o eufemismo de "limitação voluntária", que consistem na imposição de cotas.
Entre as vítimas da ofensiva protecionista estão os calçados, eletrodomésticos, móveis, têxteis, brinquedos, baterias, toalhas, denim, copos de vidro, máquinas de lavar roupa, geladeiras, fogões e até bidês, entre outros fabricados no Brasil.
Segundo a Abeceb, entre janeiro e junho deste ano as vendas brasileiras ao mercado argentino aumentaram 57,9% ante o mesmo período de 2009. No entanto, esse crescimento não foi acompanhado pelos produtos que sofrem restrições. No caso dos produtos sob os quais pesa a imposição dos valores-critério, houve queda de 11% ante o mesmo período do ano passado. Os produtos sob medidas antidumping sofreram queda de 62%.
Entre as mercadorias que puderam aumentar seu volume ao mercado argentino (embora sem chegar ao nível de 57,9% dos produtos sem a aplicação de medidas protecionistas) estão aqueles sob o controle de compromissos de preços, que cresceram 32%, assim como os produtos sob acordos de monitoramento. As mercadorias que sofrem a aplicação de licenças não automáticas aumentaram 42%.
O comércio entre Brasil e Argentina atingiu seu recorde em 2008, quando chegou a US$ 30,9 bilhões. Em 2009, em meio à crise internacional, caiu para US$ 23,3 bilhões. Para este ano, pode chegar a US$ 30 bilhões.
Empregos. Um relatório do Ministério da Economia da Argentina indica que as medidas protecionistas do governo Kirchner aplicadas ao longo de 2009 para impedir as "invasões" - ou "avalanches" - de produtos estrangeiros (entre eles, a do Brasil, parceiro comercial do Mercosul) "salvaram" mais de meio milhão de postos de trabalho.
Segundo o ministério, outros 21.510 postos de trabalho foram protegidos pela aplicação de medidas antidumping. Assim, 563.880 postos de trabalho salvaram-se da concorrência de produtos estrangeiros. O ministério indicou que os setores mais beneficiados foram o têxtil, de móveis e bens de capital.