Título: EUA querem reduzir cotas da Europa no FMI
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/09/2010, Economia, p. B8

GENEBRA - Para manter seu poder intacto no Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao mesmo tempo acomodar a China como segunda maior economia do planeta na entidade, o governo americano pressiona os europeus a aceitar uma redução de suas cotas na entidade financeira. Ontem, o vice-secretário de Estado americano, James Steinberg, deixou claro que Washington está convencido de que os europeus estão "sobre-representados" no organismo e quer debater o delicado assunto na reunião de ministros de finanças do G-20 no próximo mês sobre a reforma do FMI.

"Bélgica e Holanda têm mais votos que a China hoje no FMI", afirmou Steinberg, ontem em Genebra. Sua declaração ocorre ao mesmo tempo que a diplomacia americana começa uma ofensiva para tentar convencer os europeus a rever sua participação no organismo. Os EUA têm 16% dos votos no Fundo e, na prática, é o único país com direito de vetar uma decisão sobre a reforma da instituição. Pelas regras do Fundo, são necessários 85% dos votos para que a estrutura do FMI seja transformada.

A meta declarada é a de substituir o papel europeu por economias emergentes que tentam conquistar um papel central na retomada do crescimento e abocanhar um porcentual maior da economia mundial. A China superou o Japão neste ano como a segunda maior economia do mundo. Nos bastidores, o que os americanos não querem é ceder poder e transferir o custo da reforma para os aliados europeus.

No conselho do Fundo, 9 dos 24 lugares são reservados para os europeus. Alemanha, Reino Unido e França têm um assento permanente nas decisões da instituição, mas a ideia dos americanos é de que haja uma consolidação do voto europeu, cedendo um porcentual de votos aos emergentes. Uma primeira reforma já ocorreu em 2009. Mas transferiu apenas de forma marginal o poder para emergentes.

Agora, uma das propostas que ganha impulso é a de que os 16 países da zona do euro tenham um assento único. Outra possibilidade é de que a representação seja dos 27 países do bloco europeu. Se tal proposta vingar, Bélgica e Holanda podem simplesmente perder seus assentos no conselho do Fundo. A Suíça, que não faz parte da UE, também estaria ameaçada.