Título: Governo vai comprar os dólares da Petrobrás
Autor: Farid, Jacqueline
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/09/2010, Economia, p. B3

As medidas com as quais o governo pretende evitar uma excessiva valorização do real vão incluir a compra de dólares que entrarem no País com a operação de capitalização da Petrobrás, segundo adiantou ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele disse estar preocupado com iniciativas que outros países, como o Japão, estão tomando para desvalorizar suas moedas.

"Queremos que todos saiam da crise, mas não às nossas custas", disse o ministro. Como exemplos de medidas para evitar uma volatilidade maior na cotação do dólar no Brasil, ele citou as compras já realizadas com frequência pelo Banco Central e "instrumentos prudenciais, como limitação a risco cambial". As declarações do ministro levaram o dólar a subir em torno de 1% na tarde de ontem.

No que diz respeito à capitalização da Petrobrás, marcada para 30 de setembro e que pode chegar a R$ 150 bilhões, o ministro mandou um recado ao mercado financeiro. "Vamos enxugar qualquer excesso de dólar que possa entrar com a operação da Petrobrás. Vamos comprar tudo, já estou avisando", disse em entrevista na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro.

"O governo tem cacife suficiente para enfrentar qualquer eventual entrada de recursos com essa operação. Podemos bancar qualquer limite", emendou Mantega. O poder de fogo para as compras, segundo ele, está nas mãos do BC e do Fundo Soberano, um conjunto de reservas que podem ser usado em situações como essa.

O Fundo Soberano do Brasil (FSB) foi criado por lei em dezembro de 2008 e está vinculado ao Ministério da Fazenda. Tem como atribuições fazer investimentos no Brasil e no exterior, formar poupança pública, combater os efeitos de eventuais crises econômicas e "auxiliar nos projetos de interesse estratégico do País no exterior".

O governo está autorizado a aplicar os recursos no câmbio desde o fim de 2009, quando o Fundo foi regulamentado.

Mantega explicou que o Fundo, um colchão de segurança para o País, poderá ser acionado para conter a valorização do real.

Apesar da enfática promessa de evitar que a cotação do dólar caia mais no País, o ministro garantiu que o governo não trabalha com um piso para a moeda. "Não há piso, o que se evita é a volatilidade. Mantemos o câmbio flutuante, apesar de outros países não fazerem o mesmo."

Financiamento. Além das intervenções para conter o real, o ministro também adiantou que, dentro de, no máximo, um mês e meio, o governo vai anunciar medidas para estruturar o financiamento dos investimentos privados no País. Ele não adiantou quais serão as medidas, mas disse que o objetivo é dinamizar o mercado de capitais e criar um mercado de crédito imobiliário, além de estimular a poupança externa do setor privado.

Segundo ele, "é preciso modernizar a estrutura de financiamento, o BNDES não pode carregar tudo nas costas, o setor privado também tem de participar e tem de ter atratividade para isso".