Título: Mercado tenta baixar cotações da Petrobrás
Autor: Pinheiro , Vinícius
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/09/2010, Economia, p. B6

A uma semana da definição do preço por ação na megacapitalização da Petrobrás, o mercado pressiona para reduzir as cotações dos papéis da estatal na bolsa. Segundo apurou a Agência Estado, investidores querem derrubar o preço das ações preferenciais (PN) ao nível de R$ 23, o que representa um desconto de 13% em relação ao fechamento de ontem.

O preço da ação da Petrobrás na oferta será determinado com base nas cotações da próxima quinta-feira, dia 23, e na demanda dos investidores. A pressão para reduzir o valor faz parte do jogo onde estão, de um lado, o mercado - que deseja pagar o mínimo possível pelos papéis - e, do outro, a companhia e os bancos que coordenam a operação.

Segundo fontes, o poder de barganha dos investidores deve se intensificar caso haja a percepção de que a demanda pelos papéis na oferta será fraca. Com base no fechamento das ações de ontem, a operação movimentaria pouco mais de R$ 107 bilhões, a maior já realizada no mundo, e pode chegar a R$ 123 bilhões caso sejam colocados os lotes adicional e suplementar. A Petrobrás usará o dinheiro da capitalização para pagar a União pela cessão onerosa de 5 bilhões de barris do pré-sal e para financiar o plano de investimentos de US$ 224 bilhões entre 2010 e 2014.

Pelo cronograma da operação, hoje é o último dia para os atuais acionistas reservarem ações na oferta prioritária. Os cotistas dos fundos de privatização (FMP) também têm até hoje para decidir se entrarão na operação usando recursos do FGTS.

Como o governo já se comprometeu a ficar com R$ 74,8 bilhões em ações, sem estabelecer limite de preço, alguns profissionais questionam se o mercado conseguirá obter um desconto tão grande na operação. "A presença do governo reduz a demanda necessária para fechar a oferta e também a pressão sobre as ações", avalia uma fonte.

Risco da oferta. O risco de fracasso da oferta é apontado como remoto por um experiente profissional, por causa da ação federal. "O governo certamente possui um decreto na gaveta que pode ser usado em caso de emergência", acredita o executivo, ao mencionar a MP n.º 500, que abriu possibilidades praticamente ilimitadas para a participação oficial na operação. Dessa forma, a expectativa é de que as estatais e bancos públicos sejam usados para suprir uma eventual falta de demanda do mercado.

Ele lembra, porém, que uma redução no preço das ações da Petrobrás na oferta seria interessante para o governo. "Em tese, quanto menor o valor, melhor para a União, que levará uma quantidade de papéis maior e poderá aumentar mais a participação na companhia." Com base nas cotações de ontem, a participação estatal, incluindo o BNDES, pode subir dos atuais 39,8% para 48,5% do capital total.

Fontes de mercado ouvidas pela AE - potenciais compradores de ações na oferta - afirmam que as cotações atuais ainda estão elevadas diante dos riscos. Para um gestor de fundos, a oferta da estatal só se torna atrativa com as ações valendo entre R$ 24 e R$ 25. "Acima desse nível de preço não tenho segurança (para entrar na oferta)", diz.

No pregão de ontem, os papéis PN da Petrobrás fecharam em queda de 1,49%, a R$ 26,45, e os ON recuaram 0,53%, para R$ 29,98, na contramão da bolsa, que subiu 0,61%. Na terça, a baixa dos papéis chegou a 5,12%.