Título: Construtoras disputam Belo Monte
Autor: Goy, Leonardo ; Bahnemann, Wellington
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/09/2010, Economia, p. B6

Andrade Gutierrez, OAS e Queiroz Galvão negociam com a Mendes Júnior, que tem 1,25% e pretende sair do consórcio que venceu o leilão

A possível saída da Mendes Júnior da Norte Energia, concessionária da Hidrelétrica Belo Monte, no Rio Xingu (PA), agitou os bastidores do mercado das grandes empreiteiras do País. Segundo fontes, pelo menos três grandes construtoras - Andrade Gutierrez, OAS e Queiroz Galvão - estão negociando a fatia de 1,25% da Mendes Júnior na usina.

O interesse da Andrade Gutierrez em se tornar sócia de Belo Monte foi antecipado pelo Estado em reportagem publicada no início de agosto. Uma fonte confirmou que a empresa pretende adquirir até 2% na usina de 11,2 mil megawatts. Até por isso essas negociações não estão limitadas à cota da Mendes Júnior.

Segundo outra fonte, a venda da fatia da Mendes Júnior estaria sendo facilitada porque a companhia não vai participar do contrato de obra civil para a construção de Belo Monte e porque a empresa também trava uma antiga briga judicial com o Banco do Brasil em projetos tocados pela construtora há mais de 20 anos.

De acordo com fontes do consórcio, a briga judicial gerou "um constrangimento" com o Banco do Brasil, que negocia com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para integrar o pool de bancos repassadores do financiamento. Inicialmente, foi divulgado que o BNDES financiaria 80% do projeto, estimado em R$ 19 bilhões pelo governo e em até R$ 25 bilhões por alguns sócios da usina.

Mas, para respeitar as regras de Basileia, que definem o limite de alavancagem das instituições financeiras, o BNDES deverá dividir o financiamento com outras instituições, entre elas o Banco do Brasil, que por enquanto nega ter fechado uma linha de crédito para o empreendimento.

Negociação. Ao contrário da Andrade, a OAS e a Queiroz Galvão já são sócias de Belo Monte. Cada uma tem 2,51% no projeto. Nos bastidores, o que se comenta é que Queiroz e OAS estariam hoje ligeiramente à frente da Andrade nas conversas para comprar a fatia da Mendes Júnior.

Mas, mesmo se não fechar com a Mendes Júnior, a Andrade Gutierrez não deve ficar fora do projeto. A empresa já está entre as contratadas para construir a usina e, além de negociar com a Mendes Júnior, tenta comprar participação no projeto das empreiteiras de menor porte que são sócias do empreendimento.

Fonte do mercado que participa das discussões comenta que essas empresas ficaram descontentes com os rumos de Belo Monte, em razão do grande poder do governo sobre a concessionária e do fato de a Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade terem conquistado boa parte do contrato civil. Essa situação provocou grande descontentamento entre as pequenas construtoras, que terão papel de coadjuvantes no processo. / COLABOROU FERNANDO NAKAGAWA