Título: Baixa renda vai puxar venda de veículo zero
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/09/2010, Economia, p. B11

Pesquisa revela que 800 mil carros novos devem ser comercializados só na capital paulista nos próximos três meses, quase 25% da produção total

As revendas de carros zero-quilômetro devem ter um bom Natal, apesar do fim da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e o receio, que rondava o setor, de que o consumidor tivesse antecipado compras e esgotado a capacidade de se endividar.

Pesquisa da M.Santos, agência de varejo automotivo, com mil pessoas na cidade de São Paulo, feita na segunda quinzena de agosto, revela que 13,3% dos entrevistados pretendem comprar um veículo zero quilômetro nos próximos três meses. O resultado dos que pretendem ir às compras é pouco significativo em termos porcentuais, já que mais da metade dos entrevistados (62,3%) informou que não planeja adquirir um veículo zero-quilômetro e 21,4% se declararam ainda indecisos.

Mas, segundo o economista Ayrton Fontes, responsável pela pesquisa, os dados são significativos em termos de unidades que poderão ser vendidas nos próximos meses. Considerando que a População Economicamente Ativa da cidade de São Paulo, isto é, o grupo de pessoas que trabalham e têm capacidade de compra, é de cerca de 6 milhões, o economista calcula que perto de 800 mil veículos novos serão vendidos até o fim do ano só na capital paulista. "É o equivalente a três meses de vendas nacionais."

Também equivale a quase um quarto do total de veículos produzidos nos últimos 12 meses até maio, com base nos dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores.

A pesquisa revela que o estrato de menor renda, com ganho médio mensal de até R$ 2 mil, respondeu por 54% da amostra da pesquisa. Isso significa, diz Fontes, que o consumidor de baixa renda vai sustentar as vendas. Ele explica que os prazos longos de financiamentos, que chegam a 80 meses, e a flexibilização das condições de pagamento feita pelos bancos, como a exigência de uma entrada de 30% a 35% da renda, dão condições para o crescimento das vendas.

"O mercado está se fortalecendo", afirma Aba Moshe Lewkowicz, dono de uma rede de seis revendas da marca GM. Ele diz que, após a acomodação dos negócios registrada em junho na sua empresa, as vendas reagiram em julho e agosto e cresceram 10% e 16%, respectivamente, em relação ao mês anterior.

O empresário atribui a reação do mercado e a continuidade do crescimento das vendas nos próximos meses aos preços dos veículos. Por causa dos estoques ainda elevados, o preço dos veículos modelo 2011 estão praticamente iguais aos de 2010, quando havia o benefício tributário de redução do IPI. "A linha 2011 está com preço de 2010 por causa do estoque." O estoque médio do mercado hoje oscila entre 35 e 40 dias de vendas e o ideal seria entre 20 e 25 dias, diz ele.