Título: EUA se desculpam por testes em guatemaltecos
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2010, Internacional, p. A35

Centenas de prisioneiros e doentes mentais foram infectados com sífilis e gonorreia na Guatemala nos anos 40 para pesquisar a eficácia da penicilina

O governo dos EUA pediu desculpas formais por ter infectado centenas de pessoas com sífilis e gonorreia na Guatemala no fim dos anos 40, em um experimento para testar a eficácia do tratamento com penicilina, então um antibiótico recém-descoberto.

Os contaminados eram prisioneiros e doentes mentais. Eles não sabiam da pesquisa e não há informações se foram curados ou se morreram por causa dessas doenças.

O pedido de desculpas dos americanos foi feito depois da revelação de um estudo da historiadora Susan Reverby, da Universidade Wellesley, que pesquisava sobre outro episódio, dos anos 60. Na época, negros americanos contaminados com sífilis não foram tratados para que pesquisadores vissem como a doença evoluía. No meio dos documentos, Susan descobriu o experimento na Guatemala e alertou as autoridades americanas.

"A inoculação de doenças transmissíveis na Guatemala entre 1946 e 1948 foi claramente antiética. Embora esses eventos tenham ocorrido há mais de 64 anos, estamos indignados com o experimento", disseram em comunicado conjunto as secretárias de Estado, Hillary Clinton, e da Saúde, Kathleen Sebelius.

"Lamentamos profundamente e pedimos desculpas aos indivíduos afetados por essas práticas repugnantes. A condução do estudo não representa os valores dos EUA e nosso respeito pelo povo da Guatemala", acrescentaram.

O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, disse que o presidente Barack Obama telefonaria ontem mesmo para o presidente da Guatemala, Álvaro Colom, para desculpar-se formalmente. Uma investigação oficial do episódio também será instalada pelo governo. Não está definido se haverá alguma compensação financeira para as vítimas.

De acordo com a pesquisa de Susan, 696 pessoas foram infectadas no experimento feito na Guatemala. O responsável pelas pesquisas era John Cutler, considerado um dos mais proeminentes médicos americanos na década de 40.

Autorização. A pesquisadora afirma que autoridades guatemaltecas deram permissão para os americanos levarem adiante o experimento. No procedimento, os cientistas utilizavam até prostitutas para infectar os guatemaltecos em prisões e hospitais. Em outros casos, contaminavam as pessoas usando injeções.

Hoje, as leis americanas e códigos de ética mais rígidos impedem cientistas de realizar pesquisas com seres humanos que não saibam das eventuais consequências.