Título: A sede chinesa por recursos estratégicos
Autor: Pamplona, Nicola ; Milanese, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2010, Economia, p. B1

O gigantesco avanço social do povo chinês nas últimas décadas trouxe aumento de qualidade de vida a uma parcela cada vez maior de sua população, de 1,37 bilhão de habitantes. Para atender a essa demanda crescente de bens e alimentos, a China busca garantir o suprimento desses recursos estratégicos necessários ao seu crescimento sustentado e a alimentação de seu povo. Agora a China dispõe de capital em abundância para investir no acesso aos recursos e encontra preços de ativos que ainda não se recuperaram da crise financeira.

Ultimamente, somas maciças foram investidas na compra de minas na Austrália. Os recursos estratégicos que a China necessita incluem petróleo, minério de ferro, outros minerais, madeiras e produtos alimentícios, como soja e carnes.

Um país que ultrapassou os EUA na fabricação e no consumo de automóveis, sem um programa de energia renovável como etanol, se tornou um voraz consumidor de petróleo. E, para assegurar o suprimento, a China distribuiu investimentos entre as nações produtoras: US$ 25 bilhões para Rússia, US$ 10 bilhões para ajudar o Brasil a extrair o petróleo do pré-sal, além de bilhões para Venezuela, Argentina e outros países.

Em fins de 2009, a soma acumulada de investimentos chineses no Brasil foi menos de US$ 400 milhões. A partir de 2010, essa soma ultrapassou US$ 20 bilhões e a China se tornou o principal investidor estrangeiro no País. Empresas chinesas compraram quatro minas de minério de ferro, buscam comprar centenas de milhares de hectares de terra para o plantio de soja e cada vez mais se integram no campo de petróleo e gás.

A CNOOC (China National Offshore Oil Company) negocia com o grupo EBX, do bilionário tupiniquim Eike Batista. Sinopec já investiu cerca de US$ 1 bilhão na construção de gasodutos para a Petrobrás, compra de blocos para exploração offshore e agora compra a Repsol no Brasil. A Petro China olha para ativos brasileiros no petróleo e gás. As empresas de equipamentos e serviços da China também visam o mercado brasileiro do setor.

O Brasil necessita de capital para fazer crescer sua economia e gerar empregos, enquanto a China necessita dos recursos estratégicos que são abundantes no nosso País e se complementam. A demanda chinesa fez com que o Brasil pudesse pagar quase a totalidade da nossa divida externa e acumular US$ 273 trilhões de reservas. Essas reservas ajudaram o Brasil a ser um dos últimos a entrar na recente crise econômica, se blindar, e ser um dos primeiros a sair da crise.

PRESIDENTE BINACIONAL DA CÂMARA DE COMÉRCIO E INDÚSTRIA BRASIL-CHINA

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