Título: Taxa de juros real neutra volta a ser discutida em documento do BC
Autor: Graner, Fabio ; Fernando Nakagawa
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2010, Economia, p. B1

Relatório de Inflação traz estudo de dez páginas sobre o tema, sem entregar qual é o "número mágico" do juro neutro

Depois da ata da reunião de setembro do Comitê de Política Monetária (Copom), o Banco Central voltou a alimentar a discussão sobre a polêmica "taxa de juros real neutra" - em que a Selic permite um crescimento da economia em ritmo que não gera pressão inflacionária.

Com um tom bem mais otimista que o visto em documentos recentes, a instituição deu indicações claras de que o atual nível do juro está próximo do considerado neutro. Apesar dos sinais, o diretor de política econômica da instituição, Carlos Hamilton Araújo, se negou a declarar qual o nível considerado neutro, que, segundo o Relatório de Inflação, tem caído nos últimos anos.

O documento apresentado ontem no relatório trimestral de inflação traz estudo detalhado de dez páginas sobre o tema, sem entregar qual é o "número mágico" do juro neutro. "O BC não quer afirmar ou sinalizar que tem qualquer compromisso de um nível de taxa neutra. Não temos esse compromisso, nosso compromisso é com a taxa de inflação", disse Araújo.

"Nós não estamos querendo sinalizar que o BC acredita que o nível da taxa de equilíbrio é A, B ou C. Mas, evidentemente, temos nossos números para consumo interno", disse.

Em outros indicadores usados para decidir o rumo da política monetária, como o chamado PIB potencial da economia (que é o ritmo de crescimento econômico não inflacionário), a autoridade monetária também não informa o resultado de seus cálculos e projeções. O Ministério da Fazenda trabalha com um PIB potencial entre 5% e 6%.

Ao ser questionado sobre a razão da publicação do estudo sobre os juros neutros, o diretor disse que a intenção foi apenas fomentar a discussão. Araújo negou, mas, com o discurso de que a economia brasileira já está crescendo em um ritmo considerado sustentável no longo prazo e com as projeções mais longas de inflação ao redor da meta de 4,5%, o BC dá sinais claros de que se sente confortável com o atual nível dos juros reais (na casa de 6%) e de que a taxa neutra estaria em torno desse valor.

Em uma contribuição adicional a esse debate, o BC publicou levantamento realizado com 55 instituições financeiras mostrando que a maioria dos economistas acredita que o juro real neutro está entre 6% e 7% ao ano, com a média das estimativas em 6,55%. O BC também constatou que o mercado acredita na tese de que a potência da política monetária aumentou, tema abordado no relatório de inflação de junho.

Estimativas

5% e 6% é a projeção do Ministério da Fazenda para o PIB potencial

4,5 % é a meta de inflação para este ano

6,55% é a média das estimativas para o juro real neutro