Título: Ministro dobra dosedo remédio de outubro de 2009
Autor: Fernandes, Adriana ; Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/10/2010, Economia, p. B3

A luta continua. Em outubro do ano passado, o ministro Guido Mantega introduziu o IOF de 2% sobre aplicações de estrangeiros em renda fixa e em bolsa. Naquele momento, o dólar ameaçava romper para baixo o limite de R$ 1,70.

Após a medida, a moeda americana valorizou-se um pouco inicialmente, depois subiu de forma mais firme até quase R$ 1,9 no início deste ano, caiu de novo, voltou a elevar-se e, a partir do segundo semestre, entrou numa trajetória regular de queda. Às vésperas da eleição, o dólar rompeu afinal o piso que o governo lutava para preservar desde outubro.

A reação de Mantega agora é parecida, e consiste em dobrar a dose do remédio, mas apenas para as aplicações em renda fixa. A ideia é reduzir o ganho de quem capta recursos a custo praticamente zero no exterior e aplica a taxas acima de 10% no Brasil.

O ministro já disse algumas vezes que o IOF do ano passado provou-se um sucesso, já que teria interrompido a trajetória de queda do dólar no final de 2009. É muito difícil afirmar que ele está certo, já que outras circunstâncias do mercado também podem ter contribuído para frear a alta do real. De qualquer forma, além de poder ter contribuído para deter a apreciação, o IOF acabou se tornando uma boa fonte de arrecadação tributária.

Há uma corrente cética quanto ao uso do IOF, da qual faz parte Alexandre Schwartsman, do Santander. Além de considerá-lo inócuo, pela possibilidade de o mercado encontrar formas de contornar o imposto, a visão é de que o IOF não ataca a raiz da valorização cambial, que é uma economia muito aquecida, em que as importações e a valorização cambial são a válvula de escape para o excesso de demanda Há, finalmente, o fato de que a apreciação se dá contra o dólar, que vem despencando em relação à maioria das moedas.