Título: Mantega quer fim da guerra cambial
Autor: Fernandes, Adriana ; Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/10/2010, Economia, p. B3

Ministro defende medidas coordenadas entre os países para enfrentar o problema e atuação mais firme dos Estados Unidos e da Europa

Depois de apontar a existência de uma guerra cambial no mundo há uma semana, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu ontem medidas coordenadas entre os países para enfrentar o problema do câmbio.

O ministro cobrou dos Estados Unidos e dos países europeus a adoção de uma política fiscal mais agressiva para estimular o crescimento interno e reduzir a necessidade de aumento das suas exportações como instrumento de saída da crise. Os países têm procurado desvalorizar as suas moedas para tornar mais atraentes as exportações.

"Defendo que os Estados Unidos voltem a dar estímulos fiscais, pois os adotados até agora não foram suficientes", disse Mantega, após anunciar o aumento do IOF para as aplicações de investidores estrangeiros em renda fixa.

A medida teve por objetivo conter o processo de valorização do real frente ao dólar, que torna menos competitiva as exportações brasileiras e mais atraentes as importações.

Segundo o ministro, os países avançados precisam estimular a demanda nos seus mercados locais, que ainda estão deprimidos pela crise iniciada em 2008 e, apesar dos juros baixos, ainda patinam. Nesse cenário defendido por Mantega, esses países hoje em dificuldade voltarão a crescer com maior dinamismo e com menos necessidade de aumentar as suas exportações.

O Brasil é um dos países afetados por esse cenário, porque tem atraído muito investimentos estrangeiros que buscam os ganhos proporcionados pelos juros elevados - um dos mais altos do mundo - numa economia considerada segura, com baixo risco para a aplicação.

"Vários países estão tomando medidas em relação ao câmbio. Ninguém está dormindo em serviço. Cada um está defendendo os seus interesses e a tendência é que os países desvalorizem suas moedas", disse Mantega.

Segundo ele, medidas isoladas não terão poder suficiente para resolver os problemas e só uma solução coordenada pode resolver harmonicamente o problema.

Guerra comercial. Para o ministro, a preocupação não é só com uma eventual "guerra cambial", mas também com a tendência de uma "guerra comercial" caso ações para corrigir as distorções cambiais não sejam adotadas em conjunto pelos países.

"O que está por trás disso é a necessidade de todos aumentarem as suas exportações, os países avançados não se recuperaram da crise internacional, os mercados estão devagar e eles têm que exportar para poder manter um ritmo de crescimento", ponderou, ressaltando que vai levar o problema para discussão na próxima reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do G-20 (grupo dos países mais desenvolvidos do planeta).

Segundo Mantega, esse é um dos fatores que levam a China a ser mais agressiva na política cambial, apesar das pressões pela valorização do yuan. O raciocínio do ministro é de que por conta do insuficiente uso de estímulos fiscais, os EUA estão adotando uma política de taxas juros muito baixas, ao redor de zero, e ainda estudam aumentar a oferta de dinheiro, desvalorizando o dólar frente a várias moedas.

Na avaliação do ministro, os EUA estão fazendo uma pressão forte em relação à China, evidenciada na decisão do Congresso americano que votou a possibilidade de aplicar sanções comerciais fortes contra os chineses, se ficar comprovado manipulação do cambio.

Mantega lembrou que o prazo dado pelos congressistas está chegando ao fim. "Há uma pressão dos EUA, não é só o Brasil. Para nós a desvalorização da moeda chinesa também tem a ver com a desvalorização do dólar", ponderou.