Título: Aposta de estrangeiro na alta do real é recorde, apesar do aumento do IOF
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2010, Economia, p. B1

Investimento em moeda brasileira somava ontem aproximadamente US$ 13 bilhões e chegou aos US$ 15 bilhões na segunda-feira

O investidor estrangeiro tem reforçado a procura por alternativas para driblar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), cuja alíquota foi elevada de 2% para 4% na segunda-feira. O objetivo do governo com a medida é tentar conter a alta do real ante o dólar. O movimento fica claro na aposta de estrangeiros no mercado futuro de câmbio da BM&FBovespa. Nos últimos dias, a posição desses investidores a favor do real bateu recorde.

Ontem, ao final dos negócios, a aposta pró-moeda brasileira somava aproximadamente US$ 13 bilhões. Na segunda-feira, quando já havia a expectativa de alguma mudança no câmbio, beirou os US$ 15 bilhões. É um dado importante, porque há forte relação entre as posições no mercado futuro e a tendência para o dólar no mercado à vista. Ontem, a moeda americana subiu 0,60%, para R$ 1,68.

O governo detalhou ontem alguns pontos da medida. Embora tenha como objetivo principal frear o fluxo de dinheiro estrangeiro para a renda fixa (por causa da elevada taxa de juros brasileira, hoje em 10,75% ao ano), o IOF mais alto vai valer também para aplicações de estrangeiros em fundos de ações e multimercados, além de debêntures. Na prática, o que ficou de fora foi o investimento em ações.

Também ontem, o Conselho Monetário Nacional (CMN) divulgou nova medida que abre espaço para o Tesouro comprar quase US$ 11 bilhões adicionais no mercado cambial. A ideia do governo é criar mais demanda pela moeda americana.

O comportamento dos estrangeiros na BM&FBovespa tem basicamente duas explicações. A primeira é que, ao negociar no mercado futuro, esse investidor não paga IOF. Um analista que pede anonimato explica como funciona. "O investidor coloca dinheiro em um banco no exterior, que tem um fundo autorizado a atuar no mercado futuro do Brasil. É uma forma de aplicar no juro brasileiro sem pôr os recursos aqui dentro."

O diretor da NGO Corretora de Câmbio Sidnei Nehme diz que a outra explicação está ligada aos estrangeiros que já estão no Brasil. "É comum que esse investidor entre e saia do País, de acordo com suas conveniências", disse. "Com o IOF maior, ele vai pensar muito antes de sair. Enquanto permanecer aqui, precisa se proteger das oscilações do câmbio. Daí os recordes no mercado futuro."

Flancos. Para Nehme, ainda há muitos flancos para o governo fechar. "Mas ele precisará ter peito", afirmou. O especialista refere-se a questões normativas que estão no âmbito do Banco Central (BC). Entre as opções disponíveis, explica Nehme, está uma em que o governo negociaria com a BM&FBovespa o aumento da chamada margem das operações. Na prática, isso encareceria a aposta na alta do real.

Para o diretor de Câmbio do Banco Paulista, Tarcísio Rodrigues, mesmo que o BC e o Ministério da Fazenda ponham em prática novas medidas, não conseguirão segurar a valorização do real, uma vez que o fluxo para o País é de "enorme grandeza".