Título: Faltam pesquisas longitudinais
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/10/2010, Economia, p. B1

Os dados mostrados pela reportagem, de desempregados por faixa de renda familiar per capita, são interessantes, e não constam das divulgações usuais que o IBGE faz da sua Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que cobrem as seis maiores regiões metropolitanas do País (São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Pará, Recife e Salvador).

É sabido que essa pesquisa mostra tendência de queda da taxa de desemprego nos últimos anos. Os dados usados na reportagem revelam que o número total de desempregados caiu também em termos absolutos e não apenas, conforme a mesma taxa, como proporção da população economicamente ativa (PEA).

Quanto ao desemprego segundo faixas de renda, e olhando mais os extremos dessas faixas, os desocupados de famílias com menor renda per capita aumentaram a participação no total, ainda que caindo também em termos absolutos, exceto entre os 20% mais pobres.

Já os de famílias de maior renda mostraram uma tendência de queda tanto em números absolutos como relativos à PEA. Além disso, a queda é identificada antes. Assim, o próprio fato de que foram os primeiros a aproveitar as melhores condições ocupacionais, dadas pelo desempenho mais forte da economia, também é indicativo do seu melhor status ocupacional.

Inúmeros fatores estão por trás dessa diferença. Entre eles, está o fato de que as pessoas mais jovens têm maiores dificuldades de encontrar trabalho, e em geral sua participação é maior nas famílias de menor renda. Estas também têm mais dificuldades de dar a seus membros as qualificações demandadas pelo mercado de trabalho. É também maior nessas famílias a participação de mulheres em busca de trabalho, bem como de outros grupos que sofrem discriminação. Ademais, a condição de desempregado e sua maior incidência nessa mesma faixa também contribuem para reduzir ainda mais a renda per capita familiar.

O mais interessante, contudo, seria saber como um mesmo grupo de pessoas evolui ao longo do tempo em termos de ocupação e rendimentos pessoais ou familiares. Para isso, seriam necessárias pesquisas longitudinais, as que recolhem informações dos mesmos indivíduos mediante vários levantamentos ao longo do tempo.

Em contraste, os dados da PME apresentam informações no mesmo instante de tempo para grupos de pessoas que então responderam os questionários da pesquisa, e que não são as mesmas a cada levantamento. Sobre pesquisas longitudinais voltadas para o mercado de trabalho, realizadas há mais de quatro décadas nos EUA, pode ser consultado o site www.bls.gov/nls.

ROBERTO MACEDO É ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), PROFESSOR ASSOCIADO À FAAP E VICE-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE SÃO PAULO.