Título: Médico deve orientar casal sobre reprodução
Autor: Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2010, Vida, p. A14

Ideia é mostrar aos futuros pais as técnicas para reduzir o risco de contaminação do bebê Pelo menos 6 mil brasileiras portadoras do HIV engravidaram no País entre 2008 e 2009. "Levantamentos mostram que 80% das pessoas com aids estão em idade reprodutiva. É natural que parte delas queira ter filhos", diz o assessor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Ronaldo Hallal.

O capítulo do consenso dedicado à reprodução recomenda que o médico tome a iniciativa de falar sobre o tema. "Não cabe ao governo incentivar a gravidez. Apenas orientar o casal sobre riscos e métodos atualmente existentes para tentar evitar a contaminação." As propostas apresentadas no consenso brasileiro repetem recomendações de países como Itália e Inglaterra. "O conhecimento nessa área evoluiu. Sabemos, por exemplo, que se a quantidade de vírus circulante for indetectável e se os níveis de células de defesa for alto, o risco de contaminação do parceiro é menor", conta Hallal.

As técnicas variam de acordo com o caso. Influenciam fatores como o sexo do parceiro soropositivo, a existência ou não de outras doenças sexualmente transmissíveis e o uso de drogas. Entre as possibilidades, está a inseminação artificial ou a dispensa do uso de preservativos.

"Não há método 100% seguro. O que fazemos é mostrar as possibilidades, com riscos e vantagens de cada uma." No caso de o homem ter o vírus e a mulher não, uma das alternativas é recorrer a uma técnica chamada lavagem do sêmen. Feita em pacientes que estão em condições controladas há pelo menos seis meses, a técnica processa o esperma de forma a separar o HIV.

Hallal afirma que alguns centros, principalmente ligados a universidades, oferecem tratamento para casais que queiram engravidar - e nos quais um dos parceiros é portador do HIV. O Centro de Referência de DST-Aids da Secretaria de Saúde está financiando um estudo piloto da Faculdade de Medicina do ABC que prevê a assistência de cinco casais por mês, durante 20 meses. "A técnica usada faz análise do sêmen, com exame chamado PCR, para identificar se há presença do vírus", conta o chefe do setor, Emerson Barchi Cordts.

Hallal avalia que, com divulgação do consenso e a mudança de estratégia dos profissionais de saúde, a demanda por serviços de assistência à reprodução entre esses casais deve aumentar. Ele reconhece que, em eventual dificuldade no acesso, há risco de aumentar as ações na Justiça para garantir atendimento. "Toda demanda para fazer valer direitos individuais é importante, pode significar um ganho."