Título: Dirigente do PV critica propostas de presidenciáveis
Autor: Escobar, Herton
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/10/2010, Nacional, p. A4/8

Vice-presidente verde, Alfredo Sirkis classifica como `fracos¿ os documentos enviadas por PT e PSDB em busca de votos de Marina

Na primeira reação pública de um dirigente verde às cartas de intenções de PT e PSDB, que tentam obter o apoio e o eleitorado de Marina Silva (PV), a resposta foi negativa. O vice-presidente do partido, deputado eleito Alfredo Sirkis (RJ), fez duras críticas em seu blog aos documentos apresentados por petistas e tucanos. Considerou ambos "fracos".

Há, no entanto, dois pesos às declarações de Sirkis. Um para a carta do PT e outro para a carta do PSDB. O dirigente verde é mais incisivo em relação ao documento apresentado pelos tucanos, que chamou de "pífio". "Dá a impressão de negligência, de ter sido feito `nas coxas¿", observou, para, em seguida, enumerar pontos de divergência.

Em sua crítica mais contundente, Sirkis afirma que os emissários do PSDB cometeram uma "gafe monumental" ao versar sobre o voto distrital. "O distrital é a morte dos pequenos partidos como o nosso. Nossa proposta é o distrital misto (sistema alemão). Deve ter sido por conta da pressa ou do descaso...", argumenta o dirigente.

Para Sirkis, por outro lado, a candidata do PT, Dilma Rousseff, aceitou "ir mais longe" na questão do código florestal - ponto-chave para a convergência do apoio verde. "No documento, os tucanos ficam aquém inclusive do colocado na conversa. Não falam de reserva legal e tornam ainda mais imprecisos seus limites em relação às APPs (áreas de proteção ambiental)", anotou o dirigente do PV.

As declarações de Sirkis reforçam o aceno do "corpo político" do PV para a independência como resposta final para o segundo turno. O presidente do PV de São Paulo, Maurício Brusadin, concorda. "Foi muita declaração de amor para pouca prova de amor", sublinhou, sobre as cartas de intenções de PT e PSDB.

Contudo, isso não significa que o partido permanecerá neutro na disputa. O "corpo técnico" da campanha de Marina descarta a falta de posição na disputa. "Pode haver independência, mas não neutralidade", disse ao Estado João Paulo Capobianco, coordenador da candidata do PV. "Isso seria uma desqualificação do processo eleitoral e um desrespeito com os nossos eleitores."

Mesmo que não declare apoio a um candidato, afirma Capobianco, o partido continuará engajado na eleição, defendendo sua agenda de governo. Para ele, a princípio, nenhum candidato leva vantagem sobre o outro. "Nenhum dos dois dá importância estratégica à questão ambiental", afirmou.

Crachás ao alto. O veredicto dos verdes, no entanto, só sairá na plenária que o PV realiza hoje, às 10 horas, em São Paulo, quando entre 150 e 180 pessoas levantarão seus crachás em favor do presidenciável tucano José Serra, de Dilma, ou pela independência verde.

Ontem à tarde, os dirigentes verdes estavam reunidos na capital paulista para afinar seus discursos. Além de quadros políticos do partido, o que inclui membros da executiva nacional e dirigentes estaduais, o PV enumerou seus participantes.

Estarão presentes os 11 candidatos aos governos estaduais e os 13 candidatos ao Senado de 2010, deputados federais com mandato e eleitos em 2010, cinco representantes do grupo de Programa de Governo, cinco representantes do Movimento Marina Silva e cinco representantes de entidades religiosas não ligadas ao partido.

A decisão deve ser norteada pelas respostas por escrito de Serra e Dilma - as quais Sirkis criticou duramente - à lista de 42 compromissos considerados essenciais pelos verdes, chamada "Agenda por um Brasil Justo e Sustentável". Entre eles, uma série de compromissos relacionados a questões ambientais que foram praticamente ignoradas nas campanhas do PT e do PSDB até agora, como o combate ao desmatamento e a promoção do uso de energias renováveis.

Missivas. As cartas enviadas por PT e PSDB ao PV, enviadas durante a semana, tentaram pela via programática amealhar 20% do eleitorado brasileiro que votou em Marina - voto substancial para decidir a eleição em favor de Serra ou Dilma.

As tentativas de seduzir dirigentes verdes versaram sobre temas como a proteção dos biomas brasileiros, a criação de uma Agência Reguladora para a Política Nacional de Mudanças Climáticas, segurança pública e seguridade social.

Em carta enviada na sexta-feira ao presidente do PV, José Luiz de França Penna, o presidente nacional do PSDB, Sergio Guerra, afirmou que "constata grande convergência entre o programa de governo do partido e as propostas do PV", e que "a elaboração de um programa de governo comum poderá ser rapidamente concretizada a partir da definição partidária do PV."

A resposta do PT, assinada por Dilma, manifestou acordo com diversos pontos, pediu aprofundamento de outros e negociações. "Estamos de acordo sobre a prioridade de proteção da Amazônia, Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica dentro de uma estratégia ambientalmente sustentável de ocupação e uso do solo e inclusão social", ressalta.

Trecho da carta do PT:

"Nosso programa dá ênfase à proteção dos biomas nacionais. Por essa razão, estamos de acordo com a meta de incluir 10% dos biomas brasileiros em unidades de conservação. A proposta de desmatamento de vegetação nativa primária e secundária em estado avançado de regeneração merece precisão. Estamos de acordo sobre a prioridade de proteção da Amazônia, Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica, dentro de uma estratégia ambientalmente sustentável"