Título: Mercado prevê manutenção do juro
Autor: Leonel, Flavio ; Souza, Marcílio
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2010, Economia, p. B4

Apesar da inflação pressionada, analistas apostam na estabilidade da taxa Selic em 10,75% ao ano na reunião do Copom desta semana

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) parece ter deixado muito pouco espaço para surpresas ou divergências em sua penúltima reunião do ano. Segundo todas as 63 instituições financeiras ouvidas pelo "AE Projeções" na quarta e na quinta-feira da semana passada, a autoridade monetária deverá anunciar na quarta-feira a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 10,75% ao ano.

Não se via unanimidade entre os economistas desde o levantamento realizado pelo AE Projeções para o encontro de dezembro de 2009, quando as apostas também eram de manutenção, na época em 8,75% ao ano.

A expectativa de que a Selic não mudaria nas últimas reuniões do Copom em 2010 começou a crescer em meados deste ano, mas ganhou força sobretudo a partir do encontro mais recente, ocorrido em 31 de agosto e 1º de setembro. Nesse encontro, o BC contrariou uma parcela minoritária de analistas que ainda previa um aumento residual e deixou a Selic em 10,75%, interrompendo um ciclo de altas que começou em abril e totalizou dois pontos porcentuais.

Depois, a ata dessa reunião e o do Relatório de Inflação, divulgado no fim do terceiro trimestre e no qual o BC traça, em linhas gerais, uma visão benigna com relação ao panorama inflacionário, consolidaram a visão de que o juro não deve mais mudar até 31 de dezembro.

Inflação. Analistas reconhecem que a inflação segue pressionada, principalmente por alimentos e serviços, e os sinais de atividade aquecida resistem, sustentados pela demanda interna vigorosa. Ainda assim, prevalece entre eles a avaliação de que o BC deverá optar pela cautela e não elevará o juro agora, tanto por causa do ambiente eleitoral incerto quanto pelo fato de que uma taxa básica mais alta impulsionaria ainda mais a valorização do real ante o dólar, movimento que o governo vem tentando a todo custo combater.

Dessa maneira, todas as dúvidas concentram-se no ano que vem e multiplicam a variedade de prognósticos apresentados. Um número significativo de casas que preferem não arriscar nenhum palpite divide espaço com quem acredita na manutenção da Selic em 10,75% e com quem prevê alta para até 13% da taxa ao fim de 2011.

Há até mesmo quem não descarte uma queda dos juros. Boa parte das dúvidas se explica pela sucessão presidencial, para a qual as recentes pesquisas de intenção voto vêm apontando um cenário crescentemente incerto. Mesmo que vença a candidata governista Dilma Rousseff, o BC poderá estar sob um novo comando, cujo perfil é uma incógnita. "O grau de incerteza cresceu bastante, não se sabe quem estará no governo", comentou uma analista.

O desenrolar imprevisível de variáveis econômicas importantes, como a taxa de câmbio e os preços internacionais das commodities, e a evolução do ambiente externo são também fatores que inspiram cautela.

Na Concórdia Corretora, o economista responsável pelo departamento econômico, Flavio Combat, espera que a Selic seja mantida em 10,75% até o fim de 2010 e ao longo de 2011. Segundo ele, apesar do atual estágio de aceleração da inflação, o panorama que mostra a relação entre a oferta e a demanda não é o mesmo que obrigou o BC a elevar os juros no fim do primeiro quadrimestre do ano.

"Ainda que consideremos um cenário de inflação moderada para o quarto trimestre e estimemos uma maior pressão sobre os preços no começo de 2011, não consideramos que o acentuado descompasso entre oferta e demanda agregadas, que justificou a elevação dos juros a partir de abril de 2010, tenha persistido", disse.

Para Combat, merece destaque o atual cenário do câmbio, já que a taxa de juros brasileira em nível mais elevado que as de outros países tende a continuar atraindo mais divisas ao País.

Sem mudanças Especialistas não esperam por mudanças no próximo encontro para decidir sobre a taxa básica de juros

10,75% ao ano é a estimativa do mercado para a decisão do Copom na reunião desta semana

13% é a previsão feita por parte do mercado para a Selic no fim de 2011

63 instituições financeiras e consultorias foram ouvidas pelo "AE Projeções" para a realização do levantamento