Título: A fase de euforia também contagiou governo e políticos
Autor: Friedlander, David ; Costa, Melina
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2010, Negócios, p. N4

Brasília já teve várias ideias para faturar mais taxando a mineração. Os políticos cobiçam a Vale, fonte de lucro e poder

A febre da mineração não atraiu apenas aventureiros, investidores e empresas internacionais, como a mineradora casaque que está investindo no interior da Bahia. Ela despertou, também, a atenção do governo e dos políticos. Com o consumo mundial de commodities na estratosfera, no Brasil o setor minerador virou uma fonte promissora de lucro e também de poder.

O governo vem discutindo um novo código para a mineração. Em todos os cenários, aparecem propostas para aumentar a tributação sobre as mineradoras: aumento dos royalties (hoje de 2%), imposto sobre a exportação de minérios e criação de uma nova taxa são ideias já colocadas na mesa.

Essa não é uma discussão apenas brasileira, mas de vários países fortes no setor, como Austrália e Chile. O parlamento chileno, inclusive, acaba de aprovar o aumento nos royalties sobre o cobre, maior fonte de receita do país. O projeto ainda precisa ser sancionado pelo presidente Sebastián Piñera.

A mineração é também uma fonte de poder. Uma empresa como a Vale, maior produtora mundial de minério de ferro, responsável por investimentos gigantescos ao redor do mundo, concentra um poder político enorme. É por isso que setores do governo e políticos ligados a ele andam cobiçando a presidência da mineradora hoje ocupada por Roger Agnelli, um executivo profissional.

Pressão. O governo e os políticos olham para a Vale como se ela ainda fosse uma estatal. Embora a empresa tenha sido privatizada em 1997, dois de seus principais acionistas têm ligação com Brasília: são o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (Previ) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os outros sócios são o Bradesco e a japonesa Mitsui. Na semana passada, Agnelli falou pela primeira vez sobre o assunto, ao ser questionado a respeito da pressão para deixar o cargo. "Tem sempre alguém procurando uma cadeira. E é geralmente do PT."

Economicamente, o setor minerador em geral e a Vale em específico têm sido muito relevantes para as contas brasileiras. Em 2010, o Brasil deve exportar US$ 25 bilhões em minério de ferro, o dobro do ano passado.

Só o crescimento nas remessas desse produto representará 70% do superávit do País e a Vale deve se tornar a maior exportadora brasileira, superando a Petrobrás.

"A exportação de todas as commodities cresceu, mas a de minério de ferro explodiu", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil.