Título: BNDES prevê superar recorde de R$ 137,4 bi de desembolsos de 2009
Autor: Rodrigues, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2010, Economia, p. B4
No fim do ano passado, presidente do banco havia previsto redução no crédito, mas instituição continua financiando investimentos
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deve bater novo recorde de liberação de crédito. Depois de desembolsar o volume inédito de R$ 137,4 bilhões em 2009, o BNDES superará a marca este ano, admitiu ontem o presidente da instituição, Luciano Coutinho. Paulo Vitor/AE Paulo Vitor/AE Subsídios. Coutinho disse que, enquanto novas medidas não saem, o BNDES prorrogou as linhas com juros subsidiados
Apesar do discurso de redução da influência do BNDES na economia após a recuperação da crise, o banco mantém forte participação no crédito aos investimentos.
No fim do ano passado, Coutinho havia previsto uma ligeira redução nos desembolsos do BNDES este ano, na casa de R$ 126 bilhões. Ontem, ele admitiu que o ritmo de aprovações e desembolsos deve fazer com que o banco supere "um pouco" o desempenho de 2009. Um dos motivos, apontou, é a demora das medidas do governo para incentivar o sistema financeiro privado e o mercado de capitais como alternativa ao banco no financiamento de longo prazo.
Segundo Coutinho, o BNDES já está pronto para fazer a sua parte no plano de medidas elaborado pelo governo, que é ajudar a dar liquidez ao mercado secundário de debêntures corporativas. No entanto, afirmou que o "timing" da apresentação das medidas está nas mãos do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele disse que as medidas passam por temas tributários e regulatórios, envolvendo também Banco Central e Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
"Existe uma agenda específica para o BNDES e o mercado, que diz respeito ao apoio a instituições financeiras que ajudam a transacionar debêntures que ajudam a criar um mercado mais líquido", afirmou, após dar uma palestra no Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), no Rio. "Queremos promover debêntures com perfil mais longo, que tenham maior pulverização, que possam ser oferecidas também para pequenos investidores".
No papel. Enquanto as medidas não saem do papel, o BNDES prorrogou as linhas com juros subsidiados abaixo da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) para aquisição de bens de capital e exportações. Apesar da recuperação da economia este ano, o banco manteve os incentivos ao investimento porque essa variável continua frágil: deve fechar o ano em 19% do PIB, pouco para o crescimento acima de 5%.
O BNDES fechou as linhas emergenciais para capital de giro abertas em 2009, mas muitas operações aprovadas no ano passado tiveram recursos liberados este ano. Com isso, no acumulado em 12 meses até julho, os desembolsos do BNDES já somavam R$ 135 bilhões, patamar próximo ao liberado em 2009. No mesmo período, as aprovações somaram R$ 182,3 bilhões. Entre janeiro e julho de 2010, o BNDES liberou R$ 72,7 bilhões em crédito, 2% a menos do que no mesmo período de 2009. No entanto, tirando o efeito do empréstimo de R$ 25 bilhões concedido à Petrobrás no ano passado, a cifra representa uma alta de 48%: "Eu tinha esperança que a gente pudesse ter feito mais cedo essas medidas de estímulo (ao mercado de capitais). Atrasou um pouquinho por circunstâncias como a operação de capitalização da Petrobrás, que era muito complexa e consumiu atenção total de todos."
Para ele, o banco será "menor ou do mesmo tamanho" em 2011, numa redução gradativa dos desembolsos. "O importante é que estamos preparando para o futuro as medidas de estímulo ao capital privado e vamos avaliar a capacidade de resposta junto com o mercado para então fazer uma coisa sincronizada. Se a gente continua crescendo, inibe o mercado. Se a gente sai de repente, retrai. O custo do crédito para o investimento sobe muito na margem e exclui projetos."
Câmbio. Coutinho disse que o câmbio é uma preocupação de todos os setores do governo, assim como da iniciativa privada, e defendeu medidas mais eficazes para conter a valorização do real. "Considerando o interesse nacional, não é sensato ficar inerme (desarmado) diante dessa avalanche de capitais ingressando no País, que pressiona o câmbio", afirmou, respondendo a uma pergunta , embora tenha se recusado a opinar sobre quais medidas poderiam ser tomadas.
PRESTE ATENÇÃO
1. Cofre aberto. O volume anual de desembolsos do BNDES triplicou nos últimos seis anos, passou de R$ 40 bilhões em 2004 para R$ 137,4 bilhões no ano passado.
2. Contra crise. O aumento da concessão de crédito do banco estatal acelerou no esforço anticíclico após a crise global , batendo o recorde de liberações do banco em 2009 com um aumento de 49% nos desembolsos em relação a 2008.
3. Em sete meses. Entre janeiro e julho de 2010, o BNDES liberou R$ 72,7 bilhões em crédito, distribuídos entre projetos de infraestrutura (R$ 28,3 bilhões), indústria (R$ 23,8 bilhões), agropecuária (R$ 5,7 bilhões), comércio e serviços (R$ 14,9 bilhões)